Redação | 17 de setembro de 2025 - 07h45

Alunos usam inteligência artificial, mas escolas ainda falham em orientar

Estudo nacional revela que IA e redes sociais já são ferramentas comuns em pesquisas escolares, mas uso ainda carece de mediação pedagógica

EDUCAÇÃO DIGITAL
7 em 10 no ensino médio usam IA, mas só 1/3 foi orientado - (Foto: Adobe Stock)

O uso de inteligência artificial por estudantes do ensino médio já faz parte da rotina escolar de grande parte dos jovens brasileiros. Dados da pesquisa TIC Educação 2024 revelam que 7 em cada 10 alunos conectados à internet usam ferramentas como ChatGPT, Copilot ou Gemini para realizar pesquisas escolares. Apesar da popularização, apenas um terço deles recebeu algum tipo de orientação sobre como usar esses recursos nas escolas.

O levantamento, realizado com mais de 7,4 mil estudantes de escolas públicas e privadas em todo o país, aponta para uma lacuna entre o acesso à tecnologia e a formação adequada para seu uso educacional. Segundo os pesquisadores, o uso de IA cresce de acordo com a idade dos alunos. Entre os estudantes do ensino fundamental, apenas 15% dos anos iniciais (1º ao 5º ano) usam IA para estudos. Nos anos finais (6º ao 9º ano), o índice sobe para 39%. A média geral entre todos os níveis de ensino é de 37%.

Outro dado que chama atenção é a ascensão dos vídeos de redes sociais como principal fonte de informação para os estudantes. Entre os alunos do ensino médio, 9 em cada 10 utilizam conteúdos de plataformas como TikTok e YouTube para fazer trabalhos escolares — uma proporção equivalente ao uso de buscadores como o Google.

No total geral da amostra, cerca de 70% dos estudantes usam vídeos dessas plataformas como recurso para estudar. O Instagram aparece como fonte de pesquisa para 46% dos alunos. Já os livros digitais são usados por 54%, enquanto 39% acessam plataformas escolares e 30% utilizam sites do governo.

Apesar da intensa presença das ferramentas digitais no cotidiano dos estudantes, a orientação oferecida pelas escolas ainda é limitada. Metade dos alunos afirma ter recebido instruções sobre quais sites utilizar em pesquisas escolares e 47% foram ensinados a checar a veracidade das informações encontradas na internet. No entanto, apenas 19% dos estudantes dos ensinos fundamental e médio disseram ter aprendido como usar a inteligência artificial de forma apropriada nas atividades escolares.

Para Daniela Costa, coordenadora da TIC Educação, o uso da IA pelos estudantes precisa ser acompanhado de mediação pedagógica. “É importante que os estudantes tenham acesso a essas tecnologias, mas de uma forma segura, crítica, criativa”, afirma.

A ausência de uma política pública clara sobre o uso da inteligência artificial nas escolas é uma preocupação crescente entre os especialistas em educação. Para a pesquisadora Dora Kaufman, da PUC-SP, é urgente que o Ministério da Educação e as secretarias estaduais e municipais criem diretrizes de governança para orientar o uso dessas ferramentas.

“Na minha visão, a IA afeta diretamente dois objetivos centrais da educação: desenvolver o pensamento crítico e a criatividade dos alunos”, alerta.

Enquanto o debate sobre regulação avança lentamente, os estudantes seguem aprendendo por conta própria, muitas vezes sem o respaldo pedagógico necessário para utilizar a IA de forma responsável, segura e produtiva.