O que é a síndrome de Bell, popularmente conhecida como paralisia facial
Especialista da Hapvida explica possíveis causas, sintomas e tratamento da condição, que acomete milhares de pessoas anualmente no Brasil
ENTENDAImagine você acordar em um dia e, ao se olhar no espelho, ver a metade do rosto paralisado ou mesmo disforme? A cada ano, estima-se que cerca de 80 mil brasileiros vivam essa situação. A paralisia facial, também chamada de paralisia de Bell, é uma emergência médica que deve ser avaliada por um profissional o quanto antes.
“A precocidade do diagnóstico e do tratamento são fatores cruciais no resultado de melhora ou cura”, destaca Druzus Marques, neurologista da Hapvida, ao explicar que a alteração está diretamente associada à inflamação ou ao inchaço do nervo facial.
“Quando afetado por alguma razão, esse nervo provoca sintomas como boca torta, dificuldade para movimentar o rosto e/ou falta de expressão em uma parte da face, o que também pode alterar de forma marcante a comunicação e a autoestima das pessoas”, enfatiza.
Confira abaixo uma entrevista com o especialista sobre o assunto:
1. O que é exatamente e como se manifesta a Síndrome de Bell, também conhecida como Paralisia Facial?
A Síndrome de Bell se manifesta pela paralisia dos músculos de metade da face ou de uma porção do rosto. Na maior parte dos casos, a pessoa perde o movimento de um lado da boca e não consegue fechar o olho do mesmo lado acometido pela paralisia. É comum também haver algum tipo de alteração da fala pela incapacidade de a pessoa movimentar metade da musculatura que abre a boca. Esses são os sintomas principais, mas algumas pessoas podem apresentar dor ou perda de sensibilidade também na área externa do ouvido, além de alterações da gustação, quando a percepção do gosto dos alimentos fica diferente.
2. Quais são as possíveis causas? A identificação precoce favorece o tratamento?
Em grande parte dos casos é difícil identificar a causa da paralisia de Bell, pois ela pode ter diferentes fatores desencadeantes: estresse, baixa imunidade, mudança repentina de temperatura, reações a infecções virais – ou seja, não há uma causa definida.
Em muitos casos é gerada por reação pós-viral, ou seja, a pessoa teve uma infecção por um vírus respiratório - gripe, rinite, algo nesse sentido - e acaba tendo uma reação posterior que leva o nervo facial a inflamar e causar a paralisia facial. Em outros casos, principalmente quando a paralisia é mais grave e com dor, ela pode ter sido causada por um herpes do nervo, herpes zoster.
E sim, a identificação precoce é importante, porque por meio dela é possível a prescrição de medicamentos, como antivirais ou corticóides para reduzir a inflamação. Essas duas estratégias aumentam a chance de a pessoa ter a recuperação completa no futuro. O diagnóstico precoce é primordial também para que a situação não seja confundida com um AVC, que apesar de também poder causar paralisia de uma parte do corpo, é uma doença muito mais grave, mais séria e que precisa um tratamento mais intensivo.
3. Como é o diagnóstico feito pelo médico?
O diagnóstico da paralisia de Bell é feito clinicamente, no consultório. E as maneiras que a doença acomete o rosto da pessoa, tanto numa paralisia de Bell quanto num AVC, são diferentes. O médico consegue clinicamente perceber a diferença. Por isso, ao perceber os sintomas citados anteriormente, é importante que se busque atendimento profissional.
4. Qual é o tratamento da paralisia facial e, em média, quanto tempo ela pode durar? Existem casos irreversíveis?
O tratamento para a paralisia de Bell é medicamentoso com a introdução de antivirais - se houver a suspeita de correlação com algum vírus, principalmente o herpes, ou com corticóide para desinflamar o nervo e reduzir a gravidade da doença. A base do tratamento farmacológico seria essa. Outros cuidados são necessários com os olhos que, por não fechar, pode desenvolver úlcera de córnea. Essas pode ser uma complicação grave da doença. Nesse caso, é comum que se prescreva uma pomada oftalmológica para lubrificar os
olhos.
Com relação ao tempo, em torno de três semanas a maior parte dos pacientes já está muito bem, com a recuperação completa ou quase completa. No entanto, há casos irreversíveis, principalmente quando a doença está associada ao herpes - entre 3 e 5% dos casos não se recuperam de forma funcional, ou seja, o olho não fecha mais e a pessoa fica dependente de colírio, de proteção permanentemente. Existe ainda tem uma porcentagem de pacientes, em torno de 10% que permanece com assimetria facial.
5. A fisioterapia pode auxiliar no retorno dos movimentos do rosto?
Para as pessoas que não têm recuperação completa no período inicial, é indicada sim a fisioterapia, pois ela pode ajudar a reduzir essa assimetria. Principalmente nos casos em que a pessoa não consegue fechar o olho, a fisioterapia é muito indicada.
6. É possível evitar a paralisia facial?
Essa é uma doença de difícil prevenção por não apresentar um fator de risco claro. No entanto, o choque térmico também pode desencadear a paralisia facial. Às vezes a pessoa toma uma sauna, por exemplo, e sai de forma abrupta em um ambiente gelado - isso pode desencadear uma paralisia facial. Por isso, nesse período de grande amplitude térmica, é aconselhável que se evite a exposição a variações bruscas de temperatura para não correr o risco de desenvolver essa condição.