Redação E+ | 16 de setembro de 2025 - 08h40

CPI do INSS mira familiares do 'Careca' após descobrir empresas e transações milionárias

Relatórios indicam que filhos e esposa de Antônio Carlos Camilo Antunes podem ter atuado como laranjas no esquema que fraudava aposentados

POLÍTICA
Antonio Carlos Antunes, o careca do INSS, é alvo da CPI. - Foto: Reprodução

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS deve intensificar a investigação sobre o empresário e lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, após a descoberta de empresas em nome de seus familiares, no Brasil e no exterior, além de movimentações financeiras suspeitas que somam centenas de milhões de reais.

Segundo parlamentares, o material levantado por Polícia Federal (PF) e Controladoria-Geral da União (CGU) indica que a situação jurídica de Camilo Antunes é cada vez mais delicada. Há expectativa nos bastidores da CPI de que o empresário, em busca de reduzir possíveis penas, possa colaborar com as investigações e revelar nomes e mecanismos ainda ocultos do esquema, em troca de proteção para seus familiares.

Filhos e a esposa de Camilo estão na mira da CPI. Danilo Carvalho Antunes, de 22 anos, e Romeu Carvalho Antunes, de 28, aparecem como sócios em empresas que, segundo a PF, foram utilizadas para lavar dinheiro e repassar propina a envolvidos no esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A esposa, Tânia Carvalho dos Santos, também é citada em registros de transações imobiliárias consideradas atípicas.

Um dos indícios que chamou a atenção dos investigadores foi a movimentação de veículos de luxo na véspera da operação deflagrada em abril. Três carros foram escondidos no estacionamento de um shopping em Brasília. Um agente da PF identificou Danilo observando uma Ferrari e uma Mercedes de forma suspeita, enquanto digitava no celular. O veículo utilizado por ele estava registrado em nome de uma empresa controlada pelo irmão Romeu e por outro investigado, Rubens Oliveira Costa.

A PF aponta que Romeu abriu duas offshores na Flórida, enquanto seu pai mantém uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas, a Camilo & Antunes Limited. Foi por meio dessa empresa que Camilo adquiriu quatro imóveis — um em Brasília e três em São Paulo — no valor total de R$ 11 milhões, entre abril e julho de 2024. Nesse mesmo período, o empresário aumentou seu patrimônio em R$ 14,3 milhões.

A comissão aguarda relatório da PF sobre a movimentação internacional de Camilo Antunes e não descarta acusá-lo também por crime de evasão de divisas. Há suspeitas de que ele utilizou offshores para esconder patrimônio e lavar recursos desviados do INSS.

As transações feitas pela esposa dele também levantaram alertas. Um cartório do Distrito Federal notificou a CPI sobre sucessivas transferências de um imóvel entre o casal, somando R$ 353 milhões em um intervalo inferior a seis meses. Para a PF, a prática visava encobrir a origem do dinheiro.

CPI pressiona e avalia delação premiada

Apesar de ter sinalizado interesse em depor à CPI, mesmo sem obrigatoriedade, Camilo Antunes desistiu de comparecer poucas horas antes da sessão marcada para segunda-feira (15). Em resposta, os parlamentares convocaram uma sessão extra nesta terça para votar a convocação de seus familiares.

O presidente da CPI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), afirmou que o colegiado estuda alterar a lei das CPIs para garantir maior autonomia das comissões e limitar interferências judiciais que autorizam investigados a não comparecer.

Já o vice-presidente da CPI, deputado Duarte Junior (PSB-MA), disse que a convocação dos parentes de Camilo não é retaliação, e sim uma medida necessária: “Ambos são partes nessa organização e precisam vir aqui testemunhar”.

O relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), declarou que a comissão está aberta à possibilidade de uma delação premiada: “Nunca vi colaboração nesse formato dentro de uma CPI, mas, se estiver dentro da legalidade e trouxer elementos relevantes, vamos analisar com seriedade”.

Defesa promete recorrer

Em nota, a defesa de Antônio Carlos Camilo Antunes disse que os familiares não são obrigados a prestar depoimento e que buscará a Justiça para assegurar os direitos de cada um. “A defesa se utilizará dos mecanismos judiciais cabíveis para provocar o filtro de legalidade da medida e ver assegurados os direitos inerentes à condição de cada familiar”, afirma o texto.

Enquanto isso, a CPI vê nas movimentações de patrimônio e nas conexões internacionais de Camilo Antunes elementos cruciais para avançar nas investigações e desmantelar o esquema que, segundo os parlamentares, fraudava aposentadorias com o uso ilegal de descontos por meio de associações.