Morte de Ruy Ferraz Fontes levanta suspeitas de emboscada ligada ao crime organizado
Ex-delegado-geral de São Paulo foi assassinado na Praia Grande; polícia investiga motivação e suspeita de atuação de facção criminosa
SÃO PAULOA Polícia Civil de São Paulo investiga o assassinato de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral da corporação e atual secretário de Administração da Prefeitura de Praia Grande, no litoral paulista. Fontes, de 64 anos, foi morto em uma emboscada na noite desta segunda-feira (15), pouco após sair do prédio da prefeitura.
O crime, que ocorreu por volta das 18h, chocou o meio policial e político do estado. Fontes, que atuava longe da área de segurança pública nos últimos anos, foi seguido por criminosos em uma caminhonete Hilux. Imagens de câmeras de segurança mostram o ex-delegado tentando fugir em alta velocidade, quando foi atingido por um ônibus em um cruzamento. Após o capotamento de seu carro, três homens armados com fuzis desceram do veículo e dispararam contra ele.
Fontes ainda tentou reagir, segundo a polícia, e teria baleado um dos agressores antes de ser morto. O ataque, realizado de forma organizada e com armamento pesado, levanta suspeitas de envolvimento de grupos ligados ao crime organizado.
Durante a troca de tiros, outros civis foram atingidos. Entre eles, a filha e o neto de Fátima (nome alterado por segurança), moradora da Vila Mirim. Ela contou ao Estadão que sua filha foi atingida na perna e já recebeu alta, enquanto o neto, de 19 anos, continua internado e deve passar por cirurgia. “Foi um tiro de fuzil que quebrou o osso da perna”, relatou.
Hipóteses investigadas
Entre as linhas de investigação está a hipótese de crime encomendado, com características de execução ligada ao crime organizado. Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) afirmam que o caso tem “todas as características de um crime de máfia”.
Outra possibilidade considerada é que o ataque tenha ligação com uma licitação na Prefeitura de Praia Grande que teria prejudicado interesses de uma organização criminosa. No início da noite, um veículo suspeito de ter sido usado na emboscada foi encontrado incendiado
Ameaça anterior
Essa não foi a primeira vez que Ruy Fontes esteve na mira do crime. Em dezembro de 2023, ele foi vítima de um assalto em Praia Grande, e manifestou preocupação com a segurança da família. “Combati esses caras durante tantos anos e agora os bandidos sabem onde moro. Minha família, agora, quer que eu deixe o emprego em Praia Grande e saia de São Paulo”, disse à época.
A preocupação com retaliações vinha de sua longa trajetória no combate ao crime organizado. Em 2006, Fontes foi responsável pelo indiciamento da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), incluindo o líder da facção, Marcola. Em 2010, a Inteligência Policial descobriu um plano do PCC para matá-lo. Dois homens foram presos armados de fuzil, em frente ao 69º Distrito Policial, onde ele trabalhava.
Resposta do governo e mobilização policial
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) declarou que o governo está empenhado em esclarecer o caso. “Lamentamos profundamente o assassinato de um policial com muitos anos de trabalho dedicados à corporação. Iremos dedicar toda energia à investigação do crime”, afirmou.
A Secretaria de Segurança Pública, sob o comando de Guilherme Derrite, enviou reforços da Rota e do Batalhão de Choque para o litoral sul do estado. O Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) também foram acionados para colaborar nas investigações.
Pelas redes sociais, o secretário informou a criação de uma força-tarefa específica para capturar os envolvidos. "Determinei integração de força-tarefa, com prioridade definida pelo governador Tarcísio, para prender os criminosos", anunciou.
A expectativa das autoridades é de que a ofensiva policial na Baixada Santista possa resultar em prisões nos próximos dias, além de esclarecer as motivações por trás da execução.