Antonio Perez | 15 de setembro de 2025 - 17h00

Real lidera entre emergentes e dólar cai com expectativa de corte de juros nos EUA

Moeda americana encerra o dia abaixo de R$ 5,33, influenciada por cenário externo e pelo diferencial de juros favorável ao Brasil

DÓLAR
Real lidera entre emergentes e dólar cai com expectativa de corte de juros nos EUA. - (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

A semana começou com forte desvalorização do dólar, que fechou a segunda-feira (15) cotado a R$ 5,3217, o menor valor desde 6 de junho. A queda de 0,61% no dia acompanha um movimento global de enfraquecimento da moeda norte-americana diante da expectativa de que o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, inicie um ciclo de cortes de juros já nesta quarta-feira (17).

Enquanto o dólar perde força no exterior, o real se destaca entre as moedas emergentes, com o melhor desempenho do grupo. De acordo com operadores do mercado, a valorização da moeda brasileira foi impulsionada pelo aumento de fluxos para a renda fixa e para a Bolsa de Valores, que voltou a bater recorde intradiário, superando os 144 mil pontos.

A perspectiva de que o Fed reduza sua taxa básica em 25 pontos-base, aliada à manutenção da Selic em 15% ao ano pelo Banco Central brasileiro, amplia o diferencial de juros entre os dois países. Esse cenário favorece operações de carry trade, nas quais investidores se aproveitam dos juros mais altos no Brasil para obter ganhos em cima da arbitragem de moedas.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo, o desempenho positivo do real está diretamente ligado ao aumento do diferencial de juros entre Brasil e EUA. “O dólar está se enfraquecendo lá fora, mas cai ainda mais aqui dentro. Com corte lá e Selic parada, o diferencial fica muito favorável para o Brasil”, explica.

Costa acrescenta que, mesmo com sinais de desaceleração econômica que podem abrir espaço para uma queda da Selic em dezembro, o real tende a se valorizar no curto prazo. Isso ocorre por duas razões: o fortalecimento do apetite por carry trade e a atração de capital estrangeiro para o mercado de ações.

“Talvez o real esteja vivendo seu melhor momento agora. Isso não significa que o movimento de valorização será duradouro. Há sazonalidades negativas no fluxo no fim do ano, além das incertezas fiscais”, pondera o economista.

Com a mínima de R$ 5,3091 durante a tarde, o dólar à vista acumula perda de 1,58% nos últimos três pregões. Em setembro, a desvalorização é de 1,85%, e no acumulado do ano, a queda chega a 13,89%.

Do lado dos indicadores econômicos internos, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou queda de 0,53% em julho, resultado abaixo da expectativa do mercado, que projetava recuo de 0,30%. Ainda assim, o cenário externo tem sido o principal motor do câmbio no momento.

No exterior, o Dollar Index (DXY), que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas fortes, recuava cerca de 0,25% no fim da tarde, ficando em torno dos 97,300 pontos. No mês, o índice caiu 0,30% e, no ano, acumula baixa de pouco mais de 10%.

Para Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine, a valorização do real é explicada em parte pela fraqueza global do dólar. A outra metade, segundo ele, se deve ao diferencial de juros, aos ganhos nos termos de troca e à redução do risco-país.

“Nossa projeção de R$ 5,33 para agosto acabou se confirmando em setembro. Houve interferência de ruídos externos, mas a tendência de apreciação do real deve continuar nos próximos meses”, avalia Oliveira. Ele acredita que o dólar pode encerrar outubro em torno de R$ 5,25.