Flávia Said | 15 de setembro de 2025 - 16h55

Cade vê risco de alta nos preços com compra da Wickbold pela Bimbo

Órgão antitruste aponta concentração no mercado de pães industrializados e pode impor desinvestimentos para aprovar negócio

ECONOMIA
Cade avalia se compra da Wickbold pela Bimbo pode concentrar mercado e elevar preços no Brasil - Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

A compra da brasileira Wickbold pela mexicana Bimbo pode provocar pressão para aumento de preços no mercado de pães industrializados no Brasil, especialmente nos segmentos de pães integrais, especiais com grãos e saudáveis. A conclusão está em nota técnica do Departamento de Estudos Econômicos (DEE) do Cade, divulgada na última sexta-feira (12).

O caso será analisado pelo tribunal do Cade na sessão desta quarta-feira (17). A Pandurata Alimentos, dona das marcas Bauducco e Visconti, participa do processo como terceira interessada.

Risco de concentração

A análise apontou que, embora existam concorrentes relevantes, Bimbo e Wickbold são as únicas com produtos em todo o espectro de preços, além de deterem as opções mais próximas entre si.

Segundo o DEE, os resultados sugerem pressão positiva para alta de preços se a operação for aprovada no modelo atual. O órgão destacou ainda que bisnagas e tortilhas da Wickbold podem sofrer aumentos em qualquer região do país, enquanto os efeitos sobre pães de forma dependem de cenários específicos.

“Não é possível descartar a pressão para aumento de preços unilateral no pós-operação em Bisnagas e Tortilhas da Wickbold em nenhuma região analisada”, afirma o documento.

O estudo também alertou que empresas capazes de ampliar a oferta estão concentradas no Sudeste, Nordeste e Sul, o que mantém preocupações concorrenciais em nível nacional.

Histórico do processo

O contrato de compra foi assinado em agosto de 2024, com a Bimbo adquirindo 100% das operações da Wickbold. A notificação ao Cade ocorreu em novembro.

Em maio deste ano, a Superintendência-Geral do Cade já havia recomendado aprovação com restrições, sugerindo a adoção de um Acordo em Controle de Concentrações (ACC) ou a imposição de desinvestimentos, que podem incluir plantas de produção, centros de distribuição, lojas próprias, marcas e contratos.

O caso está sob relatoria da conselheira Camila Cabral, que pediu a análise do DEE em julho.

Empresas envolvidas

A Bimbo do Brasil Ltda., subsidiária do grupo mexicano, atua com marcas como Pullman, Plusvita, Ana Maria, Nutrella, Rap10 e Bisnaguito.

A Wickbold, de origem brasileira e fundada em 1938, fabrica pães industrializados, bolos, biscoitos, brownies, panetones e tortilhas. O negócio envolve a compra de seis empresas do grupo, entre elas Wickbold & Nosso Pão Indústrias Alimentícias Ltda. e Bemaro Alimentos Ltda.