Flávia Said | 15 de setembro de 2025 - 14h05

Pesquisa revela como lulistas e bolsonaristas veem China, EUA e o futuro do comércio internacional

Estudo mostra clivagem ideológica sobre Brics, dólar e relações bilaterais; temas como tecnologia e IA geram consenso

OPINIÃO PÚBLICA
Pesquisa mostra como lulistas e bolsonaristas divergem sobre China, EUA, Brics e comércio internacional. - Foto: Reprodução

Um novo levantamento da Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, divulgado nesta segunda-feira (15), revelou como a polarização política entre os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reflete na forma como os brasileiros enxergam as potências globais, a política internacional e o comércio exterior. Os resultados indicam que a divisão entre os dois campos políticos vai muito além da política nacional — ela molda percepções distintas sobre o papel dos Estados Unidos, da China, do dólar e dos Brics no futuro do país.

Para 72% dos eleitores de Bolsonaro, os Estados Unidos têm uma imagem positiva, enquanto 61% dos apoiadores de Lula enxergam o país de forma negativa. No caso da China, os números se invertem: 51% dos lulistas aprovam o país asiático, enquanto 49% dos bolsonaristas o reprovam.

Dólar e Brics acentuam divisão

Um dos pontos de maior contraste entre os dois grupos está na questão monetária. Quando perguntados sobre a manutenção do dólar como moeda principal no comércio internacional, 65% dos bolsonaristas defendem a permanência da moeda norte-americana, enquanto 58% dos lulistas acreditam que o Brasil deve buscar alternativas.

Essa diferença ecoa a fala de Lula na cúpula do Brics em 2023, quando defendeu a criação de uma moeda própria entre os países do bloco. “O que nós queremos é criar uma moeda que permita que a gente faça negócio sem precisar comprar dólar”, declarou o presidente na época.

O próprio bloco Brics também divide opiniões: 44% dos eleitores de Bolsonaro preferem que o Brasil se distancie do grupo, enquanto 42% são favoráveis à aproximação. Entre os lulistas, o apoio ao bloco é mais consolidado: 55% defendem maior integração, contra 29% que são contrários.

Alianças internacionais: China x EUA

A preferência por alianças também se manifesta de forma clara. Entre os bolsonaristas, 74% querem maior aproximação com os Estados Unidos, e apenas 19% preferem a China. Já entre os lulistas, 58% optam pelos chineses e 26% veem os norte-americanos como aliados prioritários.

Marcelo Tokarski, CEO da Nexus, explica que a pesquisa evidencia uma divisão ideológica muito mais profunda do que apenas diferenças sociais ou regionais. “A separação entre os grupos atinge variações que ultrapassam 40 pontos percentuais. É uma clivagem maciça no pensamento político e internacional”, avalia.

Tecnologia e IA geram consenso improvável

Apesar da forte polarização, alguns temas revelam pontos de convergência entre lulistas e bolsonaristas — principalmente no campo tecnológico. A maioria dos dois grupos considera que a China está mais avançada em inteligência artificial e tecnologia.

Entre os lulistas, 63% apontam os chineses como líderes em IA, contra 24% que escolhem os EUA. No campo bolsonarista, 54% optam pela China e 41% pelos americanos. Em inovação tecnológica geral, os números são ainda mais expressivos: 69% dos lulistas e 61% dos bolsonaristas acreditam que a China está à frente.

Também há forte aceitação dos produtos chineses, como celulares e computadores. A preferência é de 66% entre os lulistas e 53% entre os bolsonaristas, superando os itens fabricados nos Estados Unidos.

EUA lideram em corrida espacial e qualidade de vida

Os Estados Unidos ainda são vistos como o país mais influente do mundo por ampla maioria dos dois grupos — 80% entre os bolsonaristas e 66% entre os lulistas. Também são considerados líderes na corrida espacial, principalmente pelos bolsonaristas (69%) e, em menor grau, pelos lulistas (53%).

No imaginário sobre qualidade de vida, os EUA aparecem como país ideal para morar para 81% dos eleitores de Bolsonaro e 47% dos apoiadores de Lula. A China, nesse quesito, tem preferência de apenas 11% e 34%, respectivamente.

Democracia e conflitos internacionais

Outro ponto de concordância: ambos os grupos acreditam que os EUA têm um regime mais democrático que a China. Para 69% dos bolsonaristas e 53% dos lulistas, o modelo norte-americano é mais livre. Além disso, lulistas e bolsonaristas concordam que os EUA promovem mais guerras internacionais do que a China.

Apesar dessas concordâncias pontuais, o levantamento da Nexus confirma que as visões de mundo no Brasil continuam fortemente fragmentadas por alinhamentos políticos — uma polarização que se estende das urnas até a geopolítica global.