Brasil deixa Mapa da Fome e especialistas alertam para manter avanços
Menos de 2,5% da população vive em situação de subnutrição, segundo a FAO, mas 3,6 milhões de brasileiros ainda enfrentam insegurança alimentar grave e podem recolocar o país em risco
COMBATE À FOMEO Brasil deu um enorme salto no combate a fome. No fim de julho de 2025, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) anunciou que menos de 2,5% da população brasileira está subnutrida. O resultado retira o país, mais uma vez, do Mapa da Fome — um marco que já havia sido alcançado em 2014.
A conquista, no entanto, não aconteceu por acaso. Segundo o representante da FAO no Brasil, Jorge Meza, o sucesso depende de quatro pilares: decisão política, integração entre diferentes áreas do governo, recursos financeiros garantidos e participação social. Ele ressalta que “não é possível erradicar a fome sem solidariedade”, destacando que a articulação entre governo e sociedade foi decisiva para a mudança.
O caminho para chegar a esse resultado exigiu reconstrução. O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias, afirma que os anos recentes representaram um retrocesso. Ele lembra que “programas foram desmantelados durante os governos Temer e Bolsonaro”, o que fez a fome voltar a crescer. A professora Anelise Rizzolo, da Universidade de Brasília, reforça que foi preciso “retomar o diálogo político e governamental sobre o tema” para reverter o cenário.
Mesmo com os avanços, os números ainda preocupam. O próprio ministro estima que 3,6 milhões de brasileiros seguem em insegurança alimentar grave, quando a falta de comida é real. Existem ainda os níveis leve, em que há incerteza sobre a manutenção da alimentação, e moderado, quando a quantidade ou a qualidade dos alimentos já foi reduzida. Para Dias, “a missão é tirar essas pessoas da fome e evitar que quem saiu volte a enfrentar esse drama”.
O episódio mais recente do programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, percorreu regiões historicamente vulneráveis para mostrar iniciativas que ajudam a explicar o sucesso da política nacional. No semiárido baiano, a equipe encontrou exemplos de produção sustentável que dispensam agrotóxicos e valorizam a agricultura local.
Em Umburanas, um grupo de mulheres criou a Associação Mulheres do Sertão para fortalecer a agricultura familiar. A presidente, Daiana Santana, explica que a ideia surgiu da “necessidade de se unir para agregar valor ao que já faziam”. Elas cultivam roças coletivas, perfuram poços e doam legumes e verduras a famílias sem condições de plantar.
A cerca de 370 quilômetros, em Uauá, o agricultor Alcides Peixinho e sua comunidade combinam a lavoura com a recuperação da Caatinga. Entre os alimentos regionais utilizados estão o xique-xique, o mandacaru e a coroa-de-frade, espécies típicas do bioma.
Esses exemplos mostram que, com organização e participação comunitária, é possível superar a pobreza e reforçar a segurança alimentar. Mas o desafio de manter o Brasil fora do Mapa da Fome continua, e especialistas alertam que a vigilância deve ser permanente para que os avanços não se percam.