A Albânia surpreendeu o mundo político ao anunciar a primeira ministra totalmente virtual de sua história. Diella, um bot de inteligência artificial cujo nome significa “Sol” em albanês, foi designada para gerenciar todas as licitações públicas em que o governo contrata empresas privadas, com a promessa de eliminar práticas de corrupção nesse processo.

O primeiro-ministro Edi Rama, que inicia seu quarto mandato, apresentou a novidade ao divulgar seu novo gabinete. “Diella é o primeiro membro do gabinete que não está fisicamente presente, mas é virtualmente criado pela IA”, disse Rama, afirmando que a meta é garantir que as licitações públicas sejam “100% livres de corrupção”.

A escolha surge em um país marcado por escândalos de corrupção e pela presença de organizações criminosas envolvidas em tráfico de drogas e armas, um histórico que tem dificultado a entrada da Albânia na União Europeia. Rama prometeu alcançar a adesão ao bloco até 2030, mas analistas consideram o prazo ambicioso.

Criada no início do ano como assistente virtual da plataforma de serviços públicos e-Albania, Diella já auxiliava cidadãos na emissão de documentos digitais. Na apresentação como ministra, apareceu em traje folclórico albanês. O decreto presidencial que reconduziu Rama ao cargo também o encarregou de implementar o funcionamento da nova ministra de inteligência artificial.

Apesar do ineditismo, não há informações detalhadas sobre a supervisão humana de Diella ou sobre como o sistema será protegido contra manipulações. Juristas alertam que será necessário regulamentar o status legal da “ministra virtual”. Para o líder da oposição democrata, Gazmend Bardhi, a iniciativa fere a Constituição. “As palhaçadas do primeiro-ministro não podem ser transformadas em atos legais do Estado albanês”, criticou em uma postagem no Facebook.

A nomeação provocou reações irônicas nas redes sociais. Um usuário comentou que “até a Diella será corrompida na Albânia”, enquanto outro afirmou que “os roubos continuarão e Diella será responsabilizada”.

O Partido Socialista de Rama garantiu o quarto mandato consecutivo nas eleições parlamentares de maio, conquistando 83 dos 140 assentos da Assembleia. O novo governo enfrenta o desafio de combater o crime organizado e acelerar reformas para se aproximar da União Europeia, ao mesmo tempo em que testa os limites da tecnologia no coração da administração pública.