Redação | 15 de setembro de 2025 - 07h45

Escritor alerta: risco de retrocesso intelectual com o avanço da inteligência artificial

Em novo livro, escritor e jornalista defende que a prática da escrita precisa ser preservada para evitar que a sociedade perca a capacidade crítica diante da popularização dos robôs

EDUCAÇÃO
Inteligência artificial ameaça aprendizado da escrita, alerta autor - (Foto: Freepick)

A escrita, em todas as suas formas — de um simples bilhete na geladeira a um romance —, pode estar ameaçada pela popularização das ferramentas de inteligência artificial (IA). É o que defende o escritor e jornalista Sérgio Rodrigues, que vê na perda do hábito de escrever um risco não apenas para profissões, mas para a própria evolução da sociedade. Para ele, a prática da escrita é um exercício de pensamento e de criatividade que a máquina não consegue reproduzir.

Em seu novo livro, Escrever é humano: como dar vida à sua escrita em tempo de robôs, que será lançado em Brasília na próxima quinta-feira (18), Rodrigues argumenta que a criatividade é justamente o oposto daquilo que a IA realiza. Ele observa que os sistemas generativos conseguem imitar de forma impressionante a linguagem humana, mas carecem de subjetividade. “Não há, por enquanto, perspectiva de que essas tecnologias alcancem o que existe por trás da escrita criativa verdadeira”, afirma, ao destacar que arte e escrita são expressões exclusivamente humanas.

O autor ressalta que, embora a IA já ameace diversas áreas de trabalho, a maior preocupação vai além do mercado. Ele teme “um retrocesso civilizatório e intelectual”, pois, à medida que as pessoas terceirizam tarefas cotidianas — de listas de compras a e-mails —, correm o risco de desaprender a escrever. Rodrigues compara a situação ao hábito de memorizar números de telefone, prática que se perdeu com a popularização dos celulares.

A educação, segundo ele, enfrenta um desafio urgente: se as escolas não criarem mecanismos de controle, os alunos poderão entregar trabalhos produzidos por IA e deixar de desenvolver suas próprias habilidades de escrita. O escritor defende que a escrita deve ser cultivada não apenas como obrigação, mas como prazer, uma forma de pensamento crítico que não pode ser substituída.

Para Rodrigues, a superficialidade do consumo de ideias não começou com a IA, mas foi ampliada por ela. “Já vínhamos trilhando um caminho de fórmulas prontas e clichês. A inteligência artificial é apenas um simulacro do que já estava acontecendo”, observa, alertando que uma população com espírito crítico é mais difícil de manipular, inclusive em ambientes de consumo digital.

Ele cita experiências internacionais, como a da Finlândia, que após anos de incentivo ao uso de computadores em sala de aula, reviu a estratégia e baniu os dispositivos em algumas etapas da educação. Para o escritor, as escolas precisam se reinventar, criando “espaços seguros para o pensamento e a escrita, onde a máquina não possa entrar”.

Rodrigues reforça que a leitura é indissociável da escrita. Ler um resumo, diz ele, não substitui a experiência integral de um livro. Essa perda de profundidade compromete a capacidade de interpretação e, por consequência, de se expressar por escrito. Para ele, até mesmo gestos simples, como escrever uma carta de amor, exigem ferramentas que podem se enfraquecer com o tempo se não forem praticadas.

O autor acredita que famílias também têm um papel essencial nesse processo, ao valorizar e incentivar a leitura em casa. Ele lembra ainda que políticas públicas voltadas para a regulação da IA enfrentam forte resistência de grandes empresas de tecnologia. “A inteligência artificial pode ser uma ferramenta útil, mas não pode se tornar a dona do processo criativo”, conclui.