Dólar fecha em queda e atinge menor valor desde junho
Real lidera desempenho global com influência de fatores domésticos e externos; mercado reage à condenação de Bolsonaro e ao fortalecimento de Tarcísio para 2026
DÓLARO dólar encerrou a sexta-feira (12) em forte queda frente ao real, atingindo o menor patamar desde o início de junho. A moeda norte-americana recuou 0,71% no dia, cotada a R$ 5,3541 no fechamento, após ter atingido a mínima de R$ 5,3452 durante a tarde. O movimento contrasta com o cenário internacional, onde o dólar operou em alta frente a outras divisas, reforçando o bom momento do real, que liderou entre as moedas mais relevantes no dia.
Com isso, a moeda norte-americana acumula queda de 1,08% na semana e de 1,25% em setembro. No acumulado do ano, o dólar já recua 13,37% frente ao real, que apresenta o melhor desempenho entre as principais moedas latino-americanas em 2025.
Segundo operadores, a combinação de menor aversão ao risco político no Brasil e o aumento da atratividade do real para estratégias de carry trade explicam a valorização da moeda brasileira. A ausência de novas sanções por parte do governo norte-americano após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) reduziu pressões defensivas no câmbio.
Além disso, analistas destacam a percepção de que a candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, está ganhando força entre forças políticas de direita para 2026. Por ora, Tarcísio tem adotado postura moderada, evitando críticas à decisão do STF e recuando de discursos pró-anistia a Bolsonaro. Esse comportamento é bem-visto por agentes de mercado, que enxergam menor risco de instabilidade institucional no cenário eleitoral.
Outro fator que impulsionou o real foi a expectativa de que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, inicie na próxima quarta-feira (17) um ciclo de cortes na taxa básica de juros. A possível redução de 25 pontos-base, somada a sinais de novos cortes futuros, tende a ampliar o diferencial de juros favorável ao Brasil, tornando o real mais atrativo para investidores internacionais que buscam retorno com baixo risco.
O economista sênior do Banco Inter, André Valério, avalia que o momento é positivo para o real. “A condenação do ex-presidente Bolsonaro pelo STF torna o cenário eleitoral mais claro, fortalecendo potencial candidatura do Tarcísio, que é bem-vista pelo mercado”, analisa. “O Fed deve cortar os juros e sinalizar novos cortes, favorecendo o carry trade no Brasil.”
Apesar do otimismo geral, alguns analistas chamam atenção para a influência de fatores técnicos. Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, destaca o impacto do leilão de linha promovido pelo Banco Central (BC) nesta sexta-feira, que pode ter contribuído para aliviar a pressão no câmbio.
“O dólar pronto estava pressionado, e a rolagem da linha de US$ 1 bilhão ajudou. Se fosse apenas questão eleitoral, a bolsa e os juros futuros estariam mais positivos também”, pondera Borsoi.
O BC vendeu a totalidade da oferta de US$ 1 bilhão, com recompra prevista para março de 2026, em operação que teve apenas uma proposta aceita.
No mercado internacional, o Índice Dólar (DXY), que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de moedas fortes, encerrou a sessão com leve alta, girando em torno de 97,642. Ainda assim, o índice acumula queda na semana, reflexo de dados de inflação mais fracos que reforçam a tese de afrouxamento monetário nos EUA.
Entre as moedas emergentes, a maioria fechou em queda frente ao dólar, com exceção do peso mexicano, que subiu pouco mais de 0,10%. O bom desempenho do real, portanto, reforça o descolamento positivo do Brasil em relação aos seus pares neste momento.
A tendência é de continuidade na valorização do real, principalmente se o corte de juros pelo Fed se confirmar. No entanto, analistas alertam que a intensidade do movimento deve ser menor nas próximas semanas, uma vez que o Índice Dólar já acumula queda de 10% no ano, e parte dos ajustes já foi precificada.
O mercado agora volta suas atenções para a decisão do Fed e os desdobramentos do cenário político brasileiro, especialmente em relação à postura das lideranças da direita e ao fortalecimento da pré-candidatura de Tarcísio de Freitas.