Casos de sarampo disparam nas Américas e Opas alerta para urgência da vacinação
Brasil mantém índices de imunização em alta, mas especialistas reforçam necessidade de ampliar cobertura para evitar nova epidemia
SAÚDEA Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) acendeu um alerta em agosto após constatar um aumento expressivo de casos de sarampo no continente: foram mais de 10 mil confirmações em dez países das Américas, com 18 mortes registradas. O crescimento chama a atenção porque o número é 34 vezes maior em relação a 2024.
O Brasil aparece entre as nações com menos ocorrências, somando 24 até o fim de agosto, sendo 19 apenas no Tocantins. Apesar do quadro mais controlado, especialistas alertam que o risco é real devido à facilidade de transmissão do vírus. “O sarampo é altamente transmissível. Precisamos atingir, no mínimo, 95% de cobertura vacinal para criarmos uma proteção coletiva”, reforça a infectologista Marilda Siqueira, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O impacto da queda vacinal
Altamente contagioso, o sarampo se espalha pelo ar por gotículas eliminadas por pessoas infectadas. Qualquer indivíduo não vacinado pode contrair a doença, que provoca febre alta, manchas vermelhas pelo corpo, irritação nos olhos e congestão nasal. Nos casos mais graves, pode evoluir para pneumonia, encefalite, diarreia intensa e até cegueira, principalmente em crianças e pessoas com baixa imunidade.
Antes da ampliação da vacinação, o sarampo era responsável por cerca de 2,5 milhões de mortes infantis por ano no mundo. Graças à imunização, países conseguiram reduzir drasticamente os casos, e as Américas chegaram a receber, em 2016, o certificado de eliminação da circulação endêmica.
O cenário, no entanto, mudou com a queda das coberturas vacinais. A Opas destaca que a maioria dos casos recentes foi registrada entre pessoas não vacinadas ou com situação vacinal desconhecida.
Situação no Brasil
A vacinação contra o sarampo no Brasil é feita com a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola). A primeira dose é aplicada aos 12 meses de idade e a segunda aos 15 meses. De acordo com Marilda Siqueira, “crianças que não têm as duas doses registradas na caderneta não estão totalmente protegidas”.
Após anos de queda, os índices de imunização voltaram a crescer no país a partir de 2023. Em 2024, o número de municípios que atingiram a meta de 95% de cobertura na segunda dose mais que dobrou, passando de 855 em 2022 para 2.408, segundo o Ministério da Saúde.
Com a escalada de casos nos países vizinhos, o governo federal intensificou as ações de vacinação em 2025, especialmente em áreas de fronteira. Uma das iniciativas foi a reativação da Comissão Binacional de Saúde com o Uruguai, que promoveu mutirões de imunização em Sant’Ana do Livramento (RS) e Rivera (Uruguai).
O Ministério da Saúde também organizou “dias D” de vacinação em estados de fronteira, como Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia, aplicando milhares de doses em julho e agosto.
Mesmo com os esforços governamentais, especialistas reforçam que o sucesso depende da participação da sociedade. “Esse trabalho só terá sucesso se contar com a população. Isso significa procurar o serviço de saúde ao apresentar febre com exantema e manter a vacinação em dia”, alerta Marilda.