Pepita Ortega, Lavínia Kaucz e Gabriel Hirabahasi | 11 de setembro de 2025 - 18h30

Zanin afirma que é impossível dissociar Bolsonaro da minuta do golpe

Ministro do Supremo diz que ex-presidente liderou articulação do golpe e tomou frente para incentivar ruptura institucional

STF
O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF). - (Foto: Antonio Augusto/SCO/STF)

O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta quinta-feira (11) que Jair Bolsonaro não apenas tinha conhecimento da tentativa de golpe de Estado em 2022, como também teve participação ativa nas articulações. Segundo o magistrado, não é plausível acreditar que o ex-presidente não soubesse da elaboração do chamado "decreto da minuta do golpe", nem do discurso de posse que teria sido preparado para o caso de sucesso da ruptura institucional.

Durante o julgamento que pode tornar Bolsonaro o primeiro ex-chefe do Executivo brasileiro condenado por tentativa de golpe, Zanin foi categórico ao destacar a liderança do ex-presidente nas ações atribuídas ao grupo investigado. Para o ministro, Bolsonaro "anuiu a cada etapa" do plano golpista, demonstrando envolvimento direto e incentivando seus apoiadores a adotarem medidas concretas para atacar a democracia.

"Era o líder a ser seguido pelos demais integrantes da organização criminosa", afirmou Zanin, em trecho de seu voto. O magistrado ressaltou que Bolsonaro não apenas sabia do plano, como também "tomou a frente" na mobilização da população em favor da tentativa de rompimento institucional.

A declaração foi feita no momento em que o ministro finalizava seu voto sobre o caso. Ele já havia se posicionado favoravelmente à condenação do ex-presidente e de seus aliados, reconhecendo a existência de uma organização criminosa voltada para a subversão da ordem democrática. "Julgo procedente a pretensão punitiva em relação a este réu", concluiu Zanin.

A análise do Supremo se baseia em uma série de provas reunidas pela investigação, incluindo a minuta de um decreto que permitiria a Bolsonaro intervir nas eleições e manter-se no poder, mesmo após a derrota nas urnas. O documento, segundo os investigadores, seria o ponto de partida para uma tentativa de golpe, cujo desfecho incluiria um discurso de posse preparado com antecedência.

As falas do ministro Zanin reforçam a tese de que Bolsonaro teve papel central nas tentativas de romper com o regime democrático, utilizando sua influência política para coordenar ações entre seus aliados e incitar manifestações com esse objetivo. A decisão do Supremo ainda depende dos votos dos demais ministros, mas o posicionamento de Zanin marca um momento decisivo no processo.

Caso a maioria da Corte acompanhe o voto, Bolsonaro pode entrar para a história como o primeiro ex-presidente do Brasil condenado por tentar um golpe de Estado, o que deve repercutir fortemente no cenário político nacional e nas eleições futuras.