Sinais de risco de suicídio podem ser sutis: especialistas explicam como identificar e ajudar
Alterações no comportamento, falas de desesperança e isolamento social podem indicar sofrimento psíquico. Atenção e acolhimento são essenciais para a prevenção
SETEMBRO AMARELOAlerta: este conteúdo aborda suicídio e transtornos mentais. Se você está em sofrimento, veja ao fim do texto onde buscar ajuda.
Nem sempre quem pensa em suicídio dá sinais evidentes. Muitas vezes, os indícios aparecem em mudanças discretas no comportamento, no convívio social ou na forma de falar. Reconhecer esses sinais pode ser decisivo para iniciar o diálogo e incentivar a busca por atendimento especializado.
Segundo Larissa Fonseca, psicóloga clínica da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), os sintomas podem surgir de maneiras variadas:
- isolamento e desinteresse por atividades antes prazerosas;
- alterações bruscas de humor, com irritação ou apatia;
- distúrbios no sono ou no apetite;
- descuido com a própria aparência.
Outro alerta importante são frases de desesperança, em conversas ou postagens nas redes sociais, como: “Queria dormir e não acordar mais”, “A vida perdeu a graça”, “Não aguento mais essa dor”.
De acordo com Larissa, esses sinais devem ser levados a sério. “A pessoa que pensa em suicídio não quer acabar com a vida, mas sim com a dor. Muitas vezes ela expressa isso em falas como ‘vocês vão ficar melhor sem mim’ ou ‘não tenho mais vontade de viver’. Não é exagero, é pedido de ajuda.”
O psiquiatra Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), ressalta que uma aparente melhora repentina pode indicar risco.
“No início do tratamento com antidepressivos, explicamos que a melhora completa pode levar semanas. Por isso, familiares e pacientes precisam ser orientados a manter o acompanhamento, mesmo quando houver sinais de melhora.”
Idosos também estão vulneráveis
De acordo com Maria Alice de Vilhena Toledo, psiquiatra e geriatra da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), idosos podem apresentar os mesmos sinais, mas com frases típicas:“Estou dando trabalho para a família”, “A vida já não tem graça”, “Por que Deus não me levou?”.
Embora tentem com menor frequência, quando o fazem, os idosos têm maior risco de consumar o ato. Fatores como isolamento, luto e sensação de inutilidade após a aposentadoria contribuem para a vulnerabilidade.
Como agir diante de alguém em sofrimento?
Especialistas recomendam:
- resgatar lembranças positivas para abrir espaço ao diálogo;
- mostrar apoio sem preconceito, incentivando a busca por atendimento médico;
- compartilhar informações confiáveis sobre tratamento;
- evitar julgamentos ou frases que minimizem a dor, como “é só uma fase” ou “você tem tudo, por que está assim?”.
“Ideação suicida é um sintoma clínico que precisa ser investigado e tratado, como qualquer outra condição de saúde”, reforça Geraldo.
Onde buscar ajuda
- CVV (Centro de Valorização da Vida): atendimento gratuito e sigiloso 24h, pelo telefone 188, site ou e-mail.
- Canal Pode Falar (Unicef): apoio para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos, via WhatsApp, de segunda a sexta, das 8h às 22h.
- SUS: os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) oferecem atendimento gratuito em saúde mental.
- Mapa da Saúde Mental: plataforma com serviços presenciais e online gratuitos, além de materiais de orientação.