Gabriel de Sousa e Renan Monteiro | 10 de setembro de 2025 - 13h05

Lula critica Trump e celebra interligação de Roraima ao sistema nacional de energia

Presidente destaca avanço com o Linhão ManausBoa Vista e diz que modelo brasileiro é exemplo mundial de transição energética

ENERGIA LIMPA
Lula participa da cerimônia que marcou a interligação de Roraima ao sistema nacional de energia - Foto: Reprodução

Durante cerimônia realizada nesta quarta-feira, 10, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o modelo brasileiro de interligação energética pode servir de exemplo para outros países e criticou o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A fala ocorreu durante a celebração do início da energização do Linhão Manaus–Boa Vista, obra que conecta Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN), encerrando o isolamento energético do Estado.

“Em vez de o Trump brigar com a gente, ele poderia vir aqui conhecer o nosso sistema interligado. Ele ia perceber que seria muito melhor para os Estados Unidos do que brigar com a gente, que não quer brigar”, declarou Lula, em tom irônico, ao comentar o sistema nacional de energia elétrica. Em seguida, reforçou: “O Brasil tem dono. Aqui, as coisas não são largadas”.

A crítica ao sistema norte-americano foi feita após o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, mencionar que o Estado do Texas opera de forma isolada do restante da malha elétrica dos Estados Unidos — o oposto do modelo adotado no Brasil.

Roraima agora faz parte do sistema nacional

A conclusão do Linhão Manaus–Boa Vista representa um marco histórico: com a conexão, Roraima deixa de ser o único Estado fora do SIN. O empreendimento, com 725 quilômetros de extensão, interliga a Subestação Engenheiro Lechuga, no Amazonas, à Subestação Boa Vista, em Roraima, com um ponto de seccionamento em Rorainópolis.

Segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), foram investidos R$ 2,6 bilhões na obra, que opera com circuito duplo de 500 quilovolts (kV). O ministro Alexandre Silveira destacou que a medida deve gerar uma economia imediata de R$ 45 milhões por mês na Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), totalizando mais de R$ 500 milhões ao ano.

Com o novo sistema, será possível desligar usinas térmicas que operavam com combustíveis fósseis, substituindo-as por fontes limpas e renováveis. O governo estima que a redução de emissões de gases do efeito estufa supere 1 milhão de toneladas de CO por ano.

Transição energética e desenvolvimento

Para Lula, o projeto vai além da economia e da eficiência energética: “Podemos ser o centro da transição energética limpa que o mundo precisa”. Segundo ele, o novo cenário permitirá um salto de qualidade para o desenvolvimento do País, especialmente nas regiões Norte e amazônica.

Com o funcionamento do Linhão, a oferta de energia em Roraima será triplicada em relação à demanda atual, abrindo espaço para novos empreendimentos e garantindo estabilidade no fornecimento. O governo também projeta o escoamento de até 700 megawatts (MW) de futuras Usinas Hidrelétricas (UHEs), fortalecendo ainda mais o SIN.

Além do impacto econômico e ambiental, Lula destacou o aspecto social da medida. Ele afirmou que a integração energética também vai beneficiar comunidades indígenas e outras populações tradicionais do norte do País. O presidente ainda anunciou que pretende visitar uma terra indígena Yanomami em Roraima no mês de outubro.

Avanço estratégico

O modelo brasileiro de interligação elétrica foi elogiado por Lula como uma referência global. Diferentemente dos sistemas isolados ainda adotados em partes dos EUA, o SIN conecta praticamente todo o território nacional, promovendo segurança energética, estabilidade no fornecimento e menores custos operacionais.

O projeto do Linhão enfrentou desafios ambientais e judiciais durante sua tramitação, mas foi considerado estratégico pelo governo federal. A conexão de Roraima era aguardada há décadas, especialmente após o fim do fornecimento de energia da Venezuela, que até 2019 abastecia parte do Estado.

A conclusão da obra encerra esse capítulo da dependência externa e insere Roraima definitivamente na malha energética nacional. Para o Planalto, trata-se de um avanço técnico, geopolítico e ambiental com impacto direto na vida da população local e na agenda climática do país.