Mubi lança série sobre ascensão de Mussolini e origem do fascismo moderno
Em"Mussolini: O Filho do Século", dramaturgia envolvente quer despertar reflexão sobre os perigos da agenda autoritária
HISTÓRIA“Mussolini: O Filho do Século” estreia nesta quarta (10) no streaming Mubi com um propósito instigante: humanizar um dos líderes fascistas mais temidos da história para mostrar como o fascismo se espalha de maneira sedutora e perigosa.
Inspirada no livro M – O Filho do Século, de Antonio Scurati, a série narra, com ritmo frenético e tom pop, o período de 1919 a 1925, da criação do fascismo até a ascensão de Mussolini ao poder. O protagonista quebra a quarta parede, confessa suas ambições ao espectador e é acompanhado por trilha sonora de música eletrônica composta por Tom Rowlands, do Chemical Brothers.
Na abertura, um narrador alerta: “Quando uma população perdida abraça ideias simples, homens fortes se apresentam como válvula de escape.”
O diretor Joe Wright, conhecido por filmes premiados como Orgulho e Preconceito e O Destino de Uma Nação, afirma que o fascismo deve ser retratado não como distopia distante, mas como algo que seduziu pessoas comuns. “Demonizar é fácil, o desafio é entender, e assim evitar que o passado se repita.”
O ator Luca Marinelli enfrentou o papel com convicção. Herdeiro de uma família antifascista, ele decidiu retratar Mussolini com honestidade, inclusive ao suspender seu julgamento pessoal durante as filmagens. “Nosso erro seria pintá-lo como monstro. Mussolini foi humano e perigoso justamente por isso”, destacou.
Sua primeira fala à câmera é direta: “Siga-me, você também me amará. Você se tornará fascista também.” A cena reafirma a proposta da série: seduzir para, depois, provocar reflexão.
Scurati, autor da obra original, reforça essa percepção. Em entrevista ao The Guardian, defendeu que só aceitar que “nós éramos fascistas” permite compreender como isso se repete até hoje e como podemos evitá-lo, acreditando que arte antifascista tem poder de dissipar esse espectro.
“Mussolini: O Filho do Século” é mais que uma biografia. É um jogo emocionante com o espectador, sedução que incomoda, que encara o pior da humanidade para nos lembrar de que, por trás do poder, há gente com rosto e ambição.