Aparência ou verdade?
Elaine Ribeiro (*)
ARTIGOSerá que você vive de aparência ou verdade? Inspirados pela passagem "o homem olha a aparência, o Senhor olha o coração (1Sm 16,7)", devemos estar atentos às motivações para ser quem somos, pois elas podem dizer muito daquilo que somos e fazemos ao longo da nossa vida. Nem sempre temos as nossas intenções claras, mas, muitas vezes, agimos de forma repetida ao longo do tempo e frente às mais variadas situações. Já reparou naquele jeito de agir inconsciente em determinadas situações?
Acontece que, muitas vezes, tentamos ser ou fazer algo apenas para impressionar as pessoas, isto é, nem sempre nossa atitude se mostra compatível com aquilo que acreditamos, pregamos, cremos. Será aparência ou verdade? A nossa preocupação parece ser com o "externo", aquilo que julgarão a nosso respeito e aí mora o perigo: termos nos perdido pela ânsia de ser o que o outro quer. Até mesmo forçar um comportamento, um hábito ou uma vestimenta porque todo mundo gosta ou para "estar na moda".
Mas o que, de fato, está por trás desse meu gesto? A quem desejo agradar? Meu ego, minha vaidade? É uma necessidade de ser aceito pelo outro? Tento preencher minhas carências ou atender meu ego ferido?
Claro que essas respostas nem sempre são tão claras assim. Num primeiro momento, aquilo que parece bom, pode esconder outras realidades. Alguns autoquestionamentos são pertinentes: "Por que faço parte de determinado grupo na paróquia? Por que pertenço a tal movimento? Por que ajudo os pobres? Por que sou tão intransigente com quem faz aquilo que faço? Por que rezo tão voluntariamente quando estou com os outros, talvez até o ponto de incentivar a oração comunitária, e negligencio o diálogo com Deus quando estou sozinho? Por que sou tão gentil, disponível à escuta, generoso com as pessoas idosas que visito e, depois, trato mal a minha própria avó?" (Ravaglioli, A.).
Proteger e manter apenas uma aparência talvez seja fruto da necessidade de impressionar, de parecer, de agregar importância. Mas vale lembrarmos sempre: a aparência é vista apenas pelo homem. Veja, não estou aqui dizendo que todo ato tem uma intenção errônea ou que sempre desejamos destaque, mas se sua atitude pública difere de sua atitude privada, algo não vai bem. Pois, é a partir dessas inconsistências interiores que vamos comprometendo nossa saúde mental.
Sempre há tempo de refletir, mudar. Se sua imagem pessoal é uma das coisas que sustenta sua ação, e você age para manter as aparências, pode até conseguir manter isso por um tempo, mas não durará para sempre.
(*) Elaine Ribeiro é psicóloga clínica e organizacional e colaboradora da Comunidade Canção Nova.