09 de setembro de 2025 - 14h55

Brasil lidera ranking da OCDE em número de alunos por professor no ensino superior privado

Relatório aponta superlotação nas turmas de EaD e alerta para envelhecimento do corpo docente nas universidades brasileiras

EDUCAÇÃO
Brasil tem a maior média de alunos por professor no ensino superior privado entre países analisados pela OCDE - Arquivo Agência Brasil

O Brasil lidera o ranking de países com maior número de estudantes por professor no ensino superior privado, segundo dados do relatório Education at a Glance (EaG) 2025, divulgado nesta terça-feira (9) pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O relatório revela que, nas instituições privadas brasileiras, há em média 62 alunos por docente — mais que o triplo da média dos países da OCDE, que é de 18.

Em contraste, no setor público, o país apresenta média de 10 estudantes por professor, número inferior à média da organização, que é de 15 alunos por docente. A discrepância entre os dois setores reflete, principalmente, o crescimento do ensino a distância (EaD) na rede privada.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a superlotação de turmas é um dos principais desafios do setor e está fortemente associada ao modelo EaD. Das 9,9 milhões de matrículas no ensino superior brasileiro, segundo o Censo de 2023, 79,3% estão em instituições privadas — e, dessas, 73% são em cursos a distância. Na rede pública, o cenário se inverte: 85% dos ingressantes optaram por cursos presenciais.

Marco regulatório deve mudar cenário

A coordenadora de Estatística Internacional Comparada do Inep, Christyne Carvalho, afirmou que o novo marco da educação a distância, que proíbe cursos 100% EaD para bacharelados, licenciaturas e tecnológicos, deve ajudar a reduzir os desequilíbrios no setor.

“Isso se dá pela influência do ensino a distância, que já reverbera nas políticas brasileiras, em especial no marco da educação a distância, com o qual a gente espera que sejam superados esses desafios”, declarou Christyne em coletiva de imprensa online.

A especialista destacou que o novo marco busca qualificar a oferta de EaD, limitando sua expansão descontrolada e, com isso, equilibrando a relação entre professores e estudantes.

Docentes mais velhos e pouco interesse dos jovens

Outro ponto de atenção destacado pelo relatório é o envelhecimento do corpo docente no ensino superior brasileiro. Segundo o Inep, 33,8% dos professores têm 50 anos ou mais — um crescimento de 23% em dez anos. A média da OCDE é ainda maior: 40,4%.

“Esse é um dado instigante, que exige a adoção de políticas públicas urgentes. O desinteresse dos jovens pela docência e o envelhecimento dos professores afetam diretamente a renovação e qualidade do ensino superior”, alertou Christyne Carvalho.

O relatório da OCDE traz informações detalhadas sobre desempenho acadêmico, estrutura educacional e taxa de matrícula de 38 países-membros e 11 parceiros, entre eles o Brasil, que é considerado um parceiro-chave da organização.

Neste ano, o foco da publicação está voltado para o ensino superior, especialmente no contexto pós-pandemia e diante da crescente digitalização da educação.