Dólar oscila com tensão política e incerteza fiscal em semana marcada por julgamento de Bolsonaro
Moeda americana fecha em leve alta, influenciada por cenário externo e instabilidade doméstica com falas de Tarcísio e risco de sanções
DÓLAREm um dia marcado por forte instabilidade política e cautela no mercado financeiro, o dólar à vista oscilou ao longo da segunda-feira (8), encerrando o pregão em leve alta de 0,09%, cotado a R$ 5,4173. Pela manhã, chegou a atingir R$ 5,4482, mas perdeu força à tarde, acompanhando a desvalorização global da moeda americana frente a pares fortes. No mês de setembro, acumula queda de 0,09%, e no ano já recua 12,34%.
Segundo analistas do mercado, a performance da moeda foi influenciada tanto por fatores externos quanto por preocupações internas. Um dos pontos de atenção é o agravamento da crise política brasileira às vésperas do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), previsto para esta semana. A tensão aumentou após declarações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que atacou diretamente o ministro Alexandre de Moraes durante ato pró-anistia na Avenida Paulista, no domingo (7).
"Essa parte política deixa o investidor mais receoso", afirma Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. “As declarações de Tarcísio, que vinha adotando um tom mais conciliador, esquentaram muito o ambiente político."
Durante o ato na Paulista, o governador afirmou que "ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes" e defendeu que o Congresso vote o projeto de anistia imediatamente. A fala gerou repercussão entre agentes de mercado e aumentou o temor sobre possíveis consequências institucionais, inclusive com risco de sanções internacionais.
Há rumores de que, em caso de condenação de Bolsonaro, a administração de Donald Trump poderia pressionar empresas brasileiras com base na Lei Magnitsky, usada para aplicar sanções contra autoridades acusadas de violar direitos humanos. A possibilidade, ainda especulativa, adiciona um elemento extra de volatilidade ao cenário.
No exterior, o dólar perdeu fôlego frente a moedas fortes. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas, operou em baixa moderada, encerrando o dia perto dos 97,450 pontos. O movimento reflete a expectativa de um novo corte na taxa básica de juros dos Estados Unidos pelo Federal Reserve, previsto para 17 de setembro, após a divulgação de dados mais fracos do mercado de trabalho em agosto.
O mercado agora aguarda a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) americano na próxima quinta-feira (11), o que deve ajudar a calibrar as apostas sobre o ritmo de flexibilização monetária no país.
Entre as moedas emergentes, o destaque negativo ficou por conta do peso argentino, que despencou quase 5% após a derrota do partido do presidente Javier Milei nas eleições legislativas da província de Buenos Aires. O peso chileno também registrou perdas.
No Brasil, o real teve desempenho inferior ao de alguns pares, refletindo os riscos políticos internos e o ambiente fiscal desfavorável. Marcos Weigt, head da Tesouraria do Travelex Bank, ressalta que os fundamentos não favorecem o câmbio. “Apesar do carrego fantástico, o fluxo deve ficar ainda mais negativo no fim do ano. O panorama fiscal continua ruim e a possibilidade de alternância de poder nas eleições do ano que vem é incerta", afirma. “Acho difícil o dólar romper os R$ 5,40 no curto prazo em razão dos fatores internos.”
Outro fator que começa a pesar na precificação dos ativos é a antecipação do debate eleitoral. Pesquisas divulgadas nesta segunda-feira mostraram cenários distintos para a disputa presidencial de 2026. Segundo levantamento da AtlasIntel no estado de São Paulo, Tarcísio aparece à frente de Lula com 38% das intenções de voto, contra 34% do presidente. Já a pesquisa nacional CNT/MDA aponta Lula com 35,8% e Tarcísio com 17,1%. Em eventual disputa com Bolsonaro, Lula teria 36,2% e o ex-presidente 29,7%.
Esses dados elevam a percepção de incerteza política futura, o que impacta diretamente o humor do investidor estrangeiro e a entrada de capital no país.
A expectativa do mercado para o dólar no fim do ano é de valorização moderada, em meio a incertezas fiscais e políticas. Fabrizio Velloni projeta a moeda americana ao redor de R$ 5,60 até dezembro, caso não haja melhora no cenário doméstico. "O dólar já caiu demais quando a gente olha nossa condição fiscal, que vai se agravar com o governo tentando aprovar o projeto de isenção do Imposto de Renda", alerta.