Morre aos 75 anos Angela Ro Ro, pioneira da MPB e símbolo de irreverência e resistência
Cantora teve parada cardíaca após cirurgia; ícone da música enfrentou homofobia e marcou gerações com autenticidade
LUTOA cantora e compositora Angela Ro Ro morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos, após sofrer uma parada cardíaca. A artista estava internada desde julho, quando passou por uma traqueostomia. A morte foi confirmada por Laninha Braga, ex-namorada que cuidava da artista, e pelo produtor Paulinho Lima, amigo de longa data.
Ícone da Música Popular Brasileira (MPB), Ro Ro deixa um legado construído ao longo de mais de cinco décadas de carreira, em que combinou talento musical, coragem pessoal e irreverência artística. Seu nome artístico surgiu ainda na infância, em razão da voz rouca, característica marcante de seu canto. Nascida Angela Maria Diniz Gonsalves, no Rio de Janeiro, em 1949, ela foi batizada em homenagem à cantora Angela Maria.
Nos anos 1970, viveu na Europa e conheceu Caetano Veloso em Londres, com quem colaborou no disco Transa (1972). De volta ao Brasil, relutou em iniciar uma carreira profissional, mas acabou se tornando uma das vozes mais singulares da música brasileira.
Seu primeiro disco, Angela Ro Ro (1979), foi um sucesso imediato, com clássicos como Amor, Meu Grande Amor, Tola Foi Você e Não Há Cabeça. Ao longo da carreira, emplacou outras canções marcantes como Gota de Sangue, Agito e Uso, Só nos Resta Viver, Fogueira (gravada por Maria Bethânia) e Simples Carinho.
Compositoras como Ana Terra, Chico Buarque e João Donato estiveram entre seus parceiros musicais. Ro Ro também foi destaque em especiais da TV Globo, como Mulher 80 e Pirlimpimpim.
Angela Ro Ro foi uma das primeiras artistas brasileiras a se declarar publicamente lésbica. Em entrevista a Pedro Bial, em 2018, relembrou episódios de violência que sofreu por homofobia, revelando que perdeu a visão de um olho após ser espancada por militares.
Sua coragem em abordar temas como amor entre mulheres, alcoolismo, saúde mental e liberdade sexual fez dela uma figura pioneira na luta por direitos LGBTQIA+ na música.
Nos anos 1990, enfrentou dificuldades pessoais e financeiras, mas conseguiu retomar a carreira, lançando novos álbuns e fazendo apresentações intimistas. Em 2023, foi convidada a participar do show Transa, de Caetano Veloso, e do Coala Festival, mas precisou cancelar sua participação por motivos de saúde.
Em 2024, lançou dois singles autorais: Cadê o Samba? e Planos do Céu. Em 2025, revelou nas redes sociais estar doente, com dificuldades financeiras e conta bancária bloqueada, o que mobilizou fãs e colegas em uma corrente de solidariedade.
Angela Ro Ro morreu como viveu: desafiando padrões e encarando de frente os tabus de sua época. Sua voz, suas composições e sua postura frontal diante da vida moldaram uma artista que será sempre lembrada não apenas pelas canções, mas pelo que representou. Como ela própria cantou, “o grande escândalo sou eu aqui, só”.