Redação O Estado de S. Paulo | 06 de setembro de 2025 - 08h00

Católicos LGBT realizam peregrinação em Roma e celebram legado de acolhimento iniciado por Francisco

Evento oficial do Ano Santo reuniu fiéis e famílias LGBTQ+ na Basílica de São Pedro; novo papa Leão XIV sinaliza que pretende manter política inclusiva

INTERNACIONAL
Muitos peregrinos atribuíram seu sentimento de acolhimento a Francisco - (Foto: Andrew Medichini/AP)

Centenas de católicos LGBT e suas famílias participaram neste sábado (6), em Roma, de uma peregrinação do Ano Santo, marco visto por muitos como um gesto de maior acolhimento dentro da Igreja Católica. O encontro foi incluído no calendário oficial do Vaticano, embora sem caráter de patrocínio ou endosso institucional.

A iniciativa foi organizada pela entidade italiana Jonathan’s Tent, com participação de grupos internacionais como o Outreach, dos Estados Unidos, fundado pelo padre jesuíta James Martin, defensor de maior inclusão de pessoas LGBTQ+ na Igreja.

Muitos participantes destacaram que o sentimento de acolhimento nasceu com o pontificado de Francisco, falecido em 2025. Durante seus 12 anos de liderança, ele promoveu encontros com ativistas LGBT, ministrou a mulheres trans e afirmou em entrevista à Associated Press, em 2023, que “ser homossexual não é crime”.

Apesar de não ter mudado o ensinamento oficial da Igreja sobre atos homossexuais, Francisco abriu espaço para que padres abençoassem casais do mesmo sexo e ficou marcado pela frase: “Quem sou eu para julgar?”.

Para fiéis como John Capozzi, de Washington (EUA), esse posicionamento foi decisivo para seu retorno à fé:

“Meu catolicismo estava no armário. Com o papa Francisco, pude assumir e dizer: ‘Sou católico, tenho orgulho disso e quero fazer parte da Igreja’.”

Na véspera da peregrinação, uma vigília na igreja jesuíta em Roma reuniu casais gays, mães de filhos trans e religiosos. O padre italiano Fausto Focosi fez uma reflexão sobre as marcas da rejeição e a nova fase de esperança:

“Os nossos olhos já conheceram as lágrimas da vergonha. Hoje, no entanto, existem outras lágrimas, lágrimas novas. Elas lavam as antigas. São lágrimas de esperança.”

Eleito em maio, o papa Leão XIV (Robert Prevost) ainda gera expectativas quanto à sua posição sobre os católicos LGBT. Em 2012, ele havia criticado o “estilo de vida homossexual”, mas desde que virou cardeal, em 2023, reconheceu o apelo de Francisco por uma Igreja inclusiva.

Nesta semana, Leão recebeu o padre James Martin em audiência oficial e sinalizou continuidade na política de abertura:

“Ouvi a mesma mensagem do papa Leão que ouvi do papa Francisco: o desejo de acolher todas as pessoas, incluindo pessoas LGBTQ”, disse Martin.

Fiéis que participaram da peregrinação afirmaram sentir esse movimento de acolhida. Justin del Rosario, marido de Capozzi, resumiu:

“O papa Francisco me influenciou a voltar para a Igreja. O papa Leão apenas fortaleceu minha fé.”