06 de setembro de 2025 - 07h45

Tarifaço dos EUA contra o Brasil completa um mês com queda nas exportações e disputa na OMC

Medida imposta por Donald Trump atinge 3,3% das vendas brasileiras e já provoca impacto em setores como frutas, calçados e siderurgia; governo reage com negociações, Plano Brasil Soberano e ação internacional

ECONOMIA
Sobretaxa imposta por Donald Trump começou em 6 de agosto - (Foto; Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Neste sábado (6), o tarifaço imposto pelos Estados Unidos às exportações brasileiras completa um mês. Anunciada pelo presidente Donald Trump em julho e em vigor desde 6 de agosto, a medida elevou para 50% as tarifas sobre parte das vendas do Brasil ao mercado norte-americano, sob a justificativa de “déficit comercial” e do tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil.

Apesar da retaliação, o impacto direto estimado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) é de 3,3% das exportações brasileiras, já que 44,6% dos produtos foram isentos e outros 19,5% já estavam sujeitos a tarifas específicas.

Produtos como aço, alumínio, cobre, calçados e frutas estão entre os mais prejudicados. Estados com forte dependência do mercado norte-americano, como o Ceará (44% das exportações destinadas aos EUA), decretaram emergência econômica. Em Petrolina (PE), produtores temem prejuízos na exportação de mangas e uvas. Já em Franca (SP), a indústria de calçados, que vende quase toda sua produção para os EUA, alerta para risco de demissões.

O governo federal tem apostado em três frentes:

No campo interno, o governo lançou o Plano Brasil Soberano, que prevê R$ 30 bilhões em linhas de crédito a empresas exportadoras, além de prorrogação de tributos e medidas para estimular a compra de produção nacional.

Segundo dados oficiais, as exportações brasileiras para os EUA caíram 18,5% em agosto em relação ao mesmo mês de 2024. A queda atingiu inclusive produtos isentos, como aviões e minério de ferro, possivelmente em razão da antecipação de embarques em julho.

No balanço geral, as exportações do Brasil cresceram 3,9% em agosto graças ao aumento das vendas para China e Argentina, o que ajudou a reduzir parte dos impactos do tarifaço.

Para a economista Lia Valls Pereira (Uerj/FGV), a medida já afeta setores com forte dependência dos EUA, mas pode estimular a busca por novos mercados, como a União Europeia. Já o pesquisador Matheus Dias (Ibre/FGV) avalia que o tarifaço não provocou aumento significativo da inflação no Brasil, em razão da lista de cerca de 700 produtos isentos da tarifa máxima.