Marianna Gualter e Cícero Cotrim | 05 de setembro de 2025 - 14h35

Galípolo agradece apoio de Haddad e reforça defesa da autonomia do Banco Central

Presidente do BC critica pressão política e destaca falta de pessoal como obstáculo para inovação e segurança financeira

BANCO CENTRAL
Galípolo agradece apoio de Haddad e alerta para risco de enfraquecimento da autonomia do BC - (Foto: Wilton Junior/Estadão)

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, agradeceu publicamente nesta sexta-feira (5) ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por defender a autonomia da instituição diante de pressões políticas no Congresso. Na última quarta-feira (3), Haddad expressou preocupação com articulações lideradas por parlamentares do Centrão para acelerar a tramitação de um projeto de lei que permitiria ao Legislativo destituir o presidente e os diretores da autarquia.

Em declaração recente, o ministro afirmou que acompanha "com preocupação" os movimentos que tentam aprovar um pedido de urgência para essa proposta, que na prática fragilizaria a independência institucional do BC. A manifestação de Haddad foi bem recebida por Galípolo, que aproveitou para reforçar a importância da autonomia financeira e operacional do órgão.

Autonomia sob ataque no Congresso

O projeto em discussão no Congresso prevê alterar as regras atuais e dar ao Parlamento o poder de destituir a cúpula do Banco Central. A tentativa ganhou força com apoio de líderes do Progressistas e de outros partidos do chamado Centrão, que buscam ampliar o controle político sobre a autarquia.

"É relevante o posicionamento do ministro Fernando Haddad em defesa da autonomia do Banco Central. Esse apoio público fortalece o entendimento de que instituições técnicas devem operar livres de pressões políticas para garantir estabilidade econômica", destacou Galípolo.

Falta de pessoal compromete entregas

Durante evento em Brasília, Galípolo também voltou a alertar para a escassez de servidores no Banco Central, um problema que, segundo ele, compromete a capacidade de atuação da instituição. Ele mencionou que, diante das limitações, tem sido necessário deslocar profissionais entre áreas para compor forças-tarefas, como a atual, voltada para a segurança do Sistema Financeiro Nacional (SFN).

"Temos dito isso faz algum tempo, o quanto isso é relevante para que possamos operar nas condições que a maior parte dos outros bancos centrais do mundo operam", afirmou. Segundo ele, esse cenário obriga o BC a abrir mão de avanços em inovação para priorizar áreas estratégicas.

"É um trade-off clássico estudado por diversos cientistas políticos, mas no sistema financeiro, a prioridade da segurança é sempre elevadíssima", explicou. “Ainda que não tenha afetado nenhum cidadão ou cliente, a higidez do sistema não pode ter margem para qualquer tipo de espaço.”

Segurança financeira como prioridade

Galípolo enfatizou que a segurança do sistema é inegociável e ocupa o topo da lista de prioridades do BC, mesmo em detrimento de outras agendas. "Precisamos garantir que o sistema permaneça robusto, e para isso é essencial termos estrutura e pessoal adequados. A autonomia não se sustenta apenas com discurso, ela precisa de condições concretas para funcionar", completou.

A fala do presidente do BC ocorre em um momento delicado, com o Congresso debatendo medidas que podem afetar a estrutura institucional da autarquia, ao mesmo tempo em que a equipe econômica do governo busca preservar a estabilidade diante das incertezas fiscais e políticas.