Fernanda Kintschner | 05 de setembro de 2025 - 11h45

Suicídios em MS: homens morrem 270% mais que mulheres na última década, aponta Sejusp

Campanha Setembro Amarelo reforça necessidade de ampliar acolhimento e quebrar tabus sobre saúde mental masculina

SETEMBRO AMARELO
Os números de Mato Grosso do Sul demonstram que a saúde mental masculina precisa ser debatida sem estigmas

Entre 2015 e 2025, Mato Grosso do Sul registrou uma disparidade alarmante nos índices de suicídio: 1.695 homens tiraram a própria vida contra 458 mulheres, um aumento de 270% no público masculino. Os dados são da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e revelam a urgência de olhar com mais atenção para a saúde mental dos homens, grupo que segue mais vulnerável ao suicídio.

Somente em 2025, até agora, já foram registradas 212 mortes por suicídio no Estado, sendo 161 de homens.

A discussão ganha força no Setembro Amarelo, campanha instituída pela Lei Estadual 4.777/2015, de autoria da deputada Mara Caseiro (PSDB), que alerta para a prevenção e os riscos do silêncio diante do sofrimento psíquico.

“Falar sobre prevenção ao suicídio é um compromisso de toda a sociedade. O silêncio, muitas vezes, é o maior inimigo de quem sofre. Precisamos quebrar tabus e ampliar espaços de acolhimento”, destacou Mara.

Especialistas apontam que os homens têm mais dificuldade de reconhecer sinais de sofrimento e resistem em buscar apoio profissional. Segundo a psicóloga e psicanalista Kerolly Lopes, isso leva a diagnósticos tardios.

“As mulheres têm uma percepção maior de seus sintomas e procuram ajuda antes. Já os homens tendem a camuflar, o que faz com que cheguem aos pensamentos suicidas em estágios mais graves da depressão.”

O Ministério da Saúde alerta que a depressão é a doença mais associada ao suicídio. Entre os sintomas estão:

Frases como “Vou desaparecer”, “Eu só quero dormir e nunca mais acordar” ou “É inútil tentar mudar, só quero me matar” também devem ser levadas a sério como sinais de risco.

O médico Vitor Hugo Leite de Oliveira Rodrigues, especialista em emergências psiquiátricas e atuante no CAPS de Campo Grande, reforça que o isolamento social e a perda de interesse em atividades antes prazerosas são sinais clássicos. “Sempre ofereça ajuda. É preciso vencer o tabu e mostrar que pedir apoio não é fraqueza.”

A depressão também é uma das principais causas de afastamento no trabalho. Em 2024, foram 2.408 afastamentos por depressão em MS, segundo o Ministério da Previdência.

A advogada Kelly Luiza Ferreira do Valle lembra que homens e mulheres com diagnóstico têm direito a benefícios previdenciários. “Auxílio por incapacidade temporária, aposentadoria por incapacidade permanente e o BPC podem garantir suporte financeiro durante o tratamento. É fundamental buscar laudos médicos e orientação profissional.”

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