Leon Ferrari | 05 de setembro de 2025 - 07h30

Casos de coqueluche crescem no Brasil e acendem alerta sobre vacinação

Doença respiratória voltou a avançar nas Américas; só no Brasil já são mais de 2 mil registros em 2025

SAÚDE
Marca da doença são crises de tosse seca intensas e repetitivas - Foto: Krakenimages/Adobe Stock

A coqueluche, infecção respiratória conhecida pela tosse persistente e intensa, voltou a preocupar autoridades de saúde em todo o continente. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), os casos nas Américas saltaram de 4,1 mil em 2023 para 43,7 mil em 2024. Em 2025, a alta continua: apenas nos sete primeiros meses, foram notificados mais de 18,5 mil episódios e 128 mortes em nove países.

No Brasil, o Ministério da Saúde registrou 2.173 ocorrências e sete óbitos até o início de setembro. O estado de São Paulo lidera os números, com 418 casos e duas mortes, sendo 124 apenas na capital, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde e da prefeitura.

Para médicos infectologistas, a situação ainda não é de colapso, mas acende um alerta.
“O aumento é significativo e merece vigilância próxima”, afirmou Alexandre Naime, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A principal forma de prevenção é a vacinação, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da pentavalente e da DTP. As doses são destinadas a crianças de até seis anos, gestantes, profissionais e estagiários da área da saúde.

Como a doença se manifesta

A marca da coqueluche são crises de tosse seca repetitivas, muitas vezes seguidas por um “guincho” durante a inspiração, especialmente em bebês. A maioria dos pacientes se recupera sem complicações, mas casos graves podem levar a insuficiência respiratória, comprometimento cardíaco e até ao óbito.

“Não é uma doença tão simples, especialmente para crianças pequenas”, reforça o infectologista Marcelo Otsuka, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Os grupos mais vulneráveis incluem bebês menores de seis meses, pessoas imunossuprimidas e portadores de asma moderada ou grave.

Histórico e queda da cobertura vacinal

A coqueluche já foi um dos principais problemas de saúde pública do Brasil. Nos anos 1980, mais de 40 mil casos eram notificados anualmente. A vacinação em larga escala reduziu drasticamente os registros a partir da década de 1990.

Em 2023, foram apenas 216 casos confirmados no país. Mas em 2024, o número disparou para 7.551, com 21 mortes. A queda nas taxas de vacinação é apontada pela Opas como a principal causa da retomada da doença.

A cobertura da vacina pentavalente, aplicada no primeiro ano de vida, chegou a 87,5% em 2023 e 89,9% em 2024, ainda abaixo da meta de 95%. No caso da DTP, usada como reforço, os índices foram ainda menores: 79,8% e 86,2% nos mesmos períodos.

Segundo Otsuka, o déficit vacinal entre adolescentes explica parte dos novos casos. “É justamente nessa faixa etária que temos hoje a maior concentração de registros, reflexo da ausência de doses no passado”, afirmou.

Resistência a antibióticos preocupa

A coqueluche pode ser tratada com antibióticos, mas especialistas temem que a eficácia esteja em risco. A Opas identificou cepas resistentes da bactéria Bordetella pertussis em alguns países, o que dificulta o controle da transmissão.

O Ministério da Saúde afirma não ter detectado resistência no Brasil, mas o infectologista Rodrigo Lins, presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, alerta para falhas na vigilância. “É completamente possível que já tenhamos casos resistentes, mas eles não tenham sido documentados”, disse.

Segundo ele, surtos recentes de covid-19, monkeypox e sarampo mostraram que doenças infecciosas atravessam fronteiras com rapidez. “Se confirmada a resistência, o cenário da coqueluche no Brasil pode se agravar ainda mais”, concluiu.