Gabriel Damasceno | 01 de setembro de 2025 - 13h50

Brasileiros consomem proteínas em excesso e negligenciam frutas e verduras

Estudo aponta que população supera recomendação da OMS para proteína, mas 78,6% não atingem ingestão ideal de vegetais

ALIMENTAÇÃO
A proteína, nutriente presente em alimentos como carnes, feijões, ovo e lácteos, aparece em excesso na rotina da população brasileira - oto: M.studio/Adobe Stock

Os brasileiros consomem mais proteínas do que o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas ainda apresentam déficit no consumo de frutas, legumes e verduras. Em 2023, 78,6% dos moradores de capitais brasileiras não atingiram a ingestão diária sugerida, de acordo com o artigo O mito do déficit proteico, publicado na Revista de Saúde Pública.

A OMS recomenda 0,8g de proteína por quilo de peso corporal para atender às necessidades fisiológicas. Para um adulto de 70kg, isso equivale a cerca de um bife de 185g. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), apenas 3% dos 20% mais pobres do país consomem menos do que essa quantidade mínima.

Especialistas alertam que focar apenas na proteína pode ser enganoso. O verdadeiro desafio é equilibrar a alimentação, reduzindo ultraprocessados e produtos de origem animal, e aumentando a presença de frutas, legumes e verduras.

A nutricionista Nadine Marques, doutora em Saúde Pública pela USP e autora do estudo, explica que o corpo precisa de uma variedade de nutrientes para manter energia, mobilidade e funcionamento adequado de órgãos. “A proteína é apenas um macronutriente. Carboidratos e gorduras também fazem parte desse grupo. Além disso, vitaminas, minerais e compostos bioativos são essenciais para o organismo”, afirma.

Segundo Nadine, a saúde depende do equilíbrio de todos esses elementos. “Se fornecermos muito de uma peça do quebra-cabeça e faltar em outras, a imagem final não será alcançada, prejudicando bem-estar e desempenho do corpo”, complementa.

A presidente do Conselho Federal de Nutrição (CFN), Erika Carvalho, observa que a obsessão recente por proteínas está ligada à influência de dietas de moda e suplementos promovidos por influenciadores digitais, muitas vezes sem formação em nutrição. O consumo excessivo de produtos ultraprocessados, que destacam a presença de proteína em rótulos, pode gerar uma falsa percepção de alimentos saudáveis.

Levantamento do Idec, publicado em agosto, analisou 52 ultraprocessados com alegações proteicas. Dos 65 tipos de mensagens identificadas, 44 destacavam a quantidade de proteína, muitas sem explicação clara sobre o cálculo. “Essa estratégia pode induzir o consumidor a acreditar que está fazendo escolhas mais saudáveis, mesmo consumindo produtos que deveriam ser evitados”, alerta Mariana Ribeiro, nutricionista do Idec.

Ultraprocessados são alimentos industrializados com adição de corantes, aromatizantes, conservantes e outros aditivos. Geralmente têm excesso de sódio, açúcar ou gordura, o que aumenta risco de doenças crônicas.

Embora proteínas sejam essenciais para construção e reparo de tecidos, seu consumo excessivo pode causar desequilíbrios, afetando rins, fígado e o metabolismo do cálcio, além de elevar o risco cardiovascular. O limite seguro é cerca de 35% das calorias diárias, o equivalente a 175g de proteína numa dieta de 2.000 kcal. No Brasil, proteínas correspondem a 18% da ingestão calórica diária, abaixo do nível que estudos associam a riscos à saúde.