Pedro Lima | 26 de agosto de 2025 - 16h50

China busca fortalecer parceria comercial com Coreia do Sul em meio a novos desafios globais

Encontro em Pequim ocorre no mesmo dia da visita do presidente sul-coreano aos Estados Unidos; Pequim e Seul discutem livre comércio e cadeias de suprimentos

ECONOMIA
Ministro chinês Wang Wentao durante reunião em Pequim para reforçar laços econômicos. - Foto: Reprodução

A China sinalizou nesta semana seu interesse em intensificar a cooperação econômica com a Coreia do Sul, com foco em setores estratégicos e na estabilidade das cadeias globais de suprimentos. A declaração foi feita pelo ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, durante reunião em Pequim com o enviado especial sul-coreano Park Byeong-seok, nesta segunda-feira (25).

O encontro entre as autoridades ocorreu no mesmo dia em que o presidente da Coreia do Sul, Lee Jae Myung, visitou a Casa Branca, onde se reuniu com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A coincidência temporal dos compromissos sinaliza um movimento estratégico de ambos os lados asiáticos para manter o equilíbrio diplomático e econômico diante das novas dinâmicas geopolíticas.

De acordo com comunicado oficial divulgado nesta terça-feira (26) pelo governo chinês, Wang Wentao ressaltou o desejo de explorar novas áreas de cooperação e aprofundar as relações comerciais com Seul. “China e Coreia do Sul devem promover uma cooperação econômica mais sólida e profunda”, afirmou.

Livre comércio e cadeias de suprimentos no centro da agenda

O ministro chinês destacou que, após a posse do novo governo sul-coreano, os presidentes Xi Jinping e Lee Jae Myung chegaram a um “consenso importante” sobre o desenvolvimento das relações bilaterais. Segundo ele, isso orienta o novo rumo da cooperação comercial entre os dois países.

Um dos focos do diálogo foi a aceleração da segunda fase das negociações do Acordo de Livre Comércio China-Coreia, além da preservação da estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos — temas considerados prioritários em meio a tensões comerciais globais e à fragmentação de cadeias logísticas causada por crises geopolíticas recentes.

O comunicado chinês também fez referência aos “desafios severos” enfrentados pela ordem econômica internacional e pelas regras do comércio multilateral. Diante desse cenário, Pequim defende que os dois países atuem juntos para proteger o sistema global de comércio e promover a integração econômica regional.

Resposta sul-coreana: aliança regional e multilateral

Por sua vez, o enviado especial Park Byeong-seok reafirmou o compromisso do governo sul-coreano com o aprofundamento dos laços comerciais e diplomáticos com a China. Ele destacou que Seul está disposta a seguir a direção proposta por Wang Wentao e fortalecer tanto a cooperação bilateral quanto no âmbito regional e multilateral.

A China é um dos principais parceiros comerciais da Coreia do Sul, e as relações entre os dois países envolvem acordos bilionários em áreas como semicondutores, manufatura, produtos químicos, energia e tecnologia. A preocupação com a estabilidade das cadeias de suprimento é um ponto sensível, especialmente diante da crescente disputa entre Estados Unidos e China por hegemonia tecnológica.

Equilíbrio estratégico diante da influência americana

O encontro em Pequim acontece em um momento delicado para a política externa da Coreia do Sul, que tenta manter relacionamentos estratégicos tanto com os EUA quanto com a China, seus dois maiores parceiros econômicos.

A visita do presidente sul-coreano Lee Jae Myung a Washington e sua reunião com Donald Trump mostram o esforço de Seul em manter laços fortes com os Estados Unidos — um aliado tradicional em temas de segurança, especialmente diante das ameaças da Coreia do Norte. No entanto, a busca por equilíbrio com a China também reflete a realidade econômica da região: a interdependência entre os mercados asiáticos é grande e qualquer tensão pode gerar impactos severos.

A estratégia atual da diplomacia sul-coreana parece estar voltada para um modelo de neutralidade ativa, buscando se manter relevante e respeitada tanto por Washington quanto por Pequim. A reunião desta semana com Wang Wentao fortalece esse posicionamento, ao sinalizar abertura para cooperação e engajamento construtivo com o gigante asiático.