Morenão em campo: o estádio que Campo Grande quer de volta ao jogo
Estádio Morenão pode voltar em 2027; governo e clubes defendem reabertura como motor para turismo e economia de Campo Grande.
REABERTURANa esquina entre memória e expectativa, o Morenão ainda está fechado. Desde 2022, o Estádio Pedro Pedrossian, em Campo Grande, permanece interditado ao público. Mas nos bastidores, há movimento. Governo do Estado, UFMS, clubes e empresários costuram possibilidades para devolver o estádio ao seu público — e à sua função simbólica, econômica e esportiva.
“O Morenão tem um enorme potencial para se consolidar como um equipamento turístico importante”, afirma Wantuyr Tartari, gerente de Turismo da Semades. “Além de patrimônio do esporte, é parte da nossa história, com grandes momentos marcantes”, reforça.
Tartari lembra que um turista gasta, em média, R$ 563,84 por dia em Campo Grande. “Se o estádio voltar a receber grandes jogos, esse fluxo turístico pode se intensificar. Isso mexe com hotelaria, gastronomia, transporte, comércio.”
Arquibancada cheia, economia aquecida - A mística do estádio ajuda a alimentar esse desejo. A seleção brasileira já passou por lá — em 2009, 23.746 torcedores assistiram ao empate contra a Venezuela pelas Eliminatórias da Copa. Neymar também, quando atuou pelo Santos, em 2010, contra o Naviraiense. Em 2013, o Palmeiras comemorou o título da Série B com uma goleada no Morenão diante de 7.121 pagantes. E em 29 de setembro do mesmo ano, a Portuguesa fez 4 a 0 no Corinthians, no que seria a maior goleada do confronto em campeonatos nacionais.
Mas, hoje, o que se vê são portões trancados e arquibancadas vazias.
Para Marlon Brandt, presidente do Comercial, a reabertura é urgente. “Campo Grande tem uma logística muito boa, está no centro do Brasil. Mas estamos com o principal palco fora de jogo. Precisamos mudar isso.”
Marlon Brandt, presidente do Esporte Clube Comercial, defende reabertura urgente do Morenão para impulsionar o futebol local e a economia de Campo Grande.
Segundo ele, sem um estádio adequado, os clubes ficam sem receita. “Hoje, os clubes não podem contar com a arrecadação dos jogos. Não há argumento suficiente para tirar o torcedor de casa. O Morenão precisa voltar, e não só pelo futebol, mas por tudo que gira em torno dele.”
“Sem Morenão, voltamos ao amadorismo” - Nelson Antônio da Silva, presidente do Operário, é direto: “Futebol sem Morenão é praticamente voltar ao amadorismo. É o principal palco esportivo do Estado. Sem ele, perdemos competitividade, apelo e visibilidade.”
Nelson Antônio da Silva, presidente do Operário, defende a reabertura do Morenão como essencial para o futebol profissional em Mato Grosso do Sul.
O dirigente defende que o estádio pode ser um catalisador de novos investimentos, inclusive do setor privado. “Precisamos de um modelo de gestão que permita parcerias e investimentos. Mas, primeiro, é preciso tirar os entraves.”
O principal deles, no momento, é a formalização do convênio entre UFMS e Governo do Estado, passo necessário para autorizar obras e estabelecer regras de uso. A proposta de uma Parceria Público-Privada (PPP) está em discussão, mas exige estudo de viabilidade e interesse do mercado.
Enquanto isso, os clubes planejam o futuro com otimismo moderado. “Nosso planejamento mira 2027”, explica Brandt. “É quando o Comercial deve estar mais estruturado na Série B local, pensando na elite. Ter o Morenão à disposição pode mudar esse cenário.”
Morenão como política pública - Mais do que um campo de futebol, o Morenão se tornou uma questão de política pública. O estádio entra na pauta como parte da estratégia de fortalecimento do turismo, da economia criativa e da autoestima da cidade.
“O retorno do Morenão é um resgate da identidade de Campo Grande”, diz Tartari. “É um projeto de desenvolvimento urbano com base na cultura e no esporte.”
Por ora, os gramados seguem vazios. Mas o jogo está longe de terminado. “Temos um patrimônio pronto para ser reativado. Falta apenas destravar as chaves da vontade política e da gestão pública”, resume Brandt.