Ricardo Eugenio | 26 de agosto de 2025 - 08h06

Estudo avalia impactos econômicos e ambientais de PCHs no Pantanal

Relatório do WWF-Brasil projeta prejuízo potencial de R$ 7 bilhões com implantação de hidrelétricas na Bacia do Alto Paraguai

ENERGIA LIMPA
Barco navega por rio na região da Serra do Amolar, no Pantanal sul-mato-grossense, área próxima a empreendimentos hidrelétricos em planejamento. - (Foto: André Dib / WWF-Brasil)

Um estudo realizado pelo WWF-Brasil analisou os impactos da instalação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) na Bacia do Alto Paraguai, que abrange parte dos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O relatório estima que os empreendimentos podem gerar um prejuízo potencial de até R$ 7,04 bilhões, considerando aspectos econômicos, ambientais e sociais.

A análise levou em conta 59 PCHs planejadas ou em operação na região, sendo a maioria (54) localizada em Mato Grosso. A metodologia adotada foi baseada em diretrizes da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), incluindo a ferramenta oficial de Análise de Custo-Benefício (ACB).

Segundo o relatório, embora a maior parte das usinas esteja situada em território mato-grossense, os efeitos ambientais seriam mais significativos no Mato Grosso do Sul, especialmente na planície pantaneira. Entre os possíveis impactos mencionados estão a alteração no regime hídrico, a retenção de sedimentos e a redução da fertilidade natural de áreas alagadas.

O estudo também comparou os resultados esperados das PCHs com um cenário alternativo de geração energética. De acordo com os dados, um mix composto por 50% de energia eólica, 42% solar, 4% biomassa e 4% biogás poderia gerar a mesma potência firme (409,55 MW) e proporcionar um retorno líquido de R$ 4,84 bilhões, frente a um prejuízo líquido estimado em R$ 2,20 bilhões com as PCHs.


Mapa da Bacia do Alto Paraguai mostra localização de empreendimentos hidrelétricos operando ou em fase de licenciamento nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. (Mapa: WWF-Brasil / Reprodução)

Outro ponto levantado no documento é a tendência de queda na vazão dos rios da região. Projeções da ANA indicam uma redução de até 16% até 2055, o que pode comprometer a eficiência das PCHs, já que essas usinas não contam com reservatórios de acumulação.

O relatório também menciona possíveis efeitos sobre cadeias produtivas locais, como a pesca e o turismo, além do uso de subsídios públicos por parte dos empreendimentos. Entre os incentivos apontados estão isenções de compensações pelo uso da água, descontos em tarifas de transmissão e mecanismos de contratação em leilões de energia. Esses benefícios somariam, segundo o estudo, R$ 364 milhões.


Vista aérea da planície pantaneira com destaque para rios, lagoas e áreas alagáveis; região está entre as mais influenciadas por alterações no regime hídrico da BAP. (Foto: André Dib / WWF-Brasil)

Como proposta, o WWF-Brasil recomenda que as PCHs na Bacia do Alto Paraguai sejam excluídas dos planos de expansão energética e que os subsídios sejam redirecionados para fontes consideradas de menor impacto ambiental. A organização também sugere o fortalecimento da obrigatoriedade da análise de custo-benefício em decisões relacionadas à infraestrutura energética.