Redação, O Estado de S. Paulo | 25 de agosto de 2025 - 20h45

Suspeito de ameaçar youtuber Felca é preso em Olinda com acesso a sistema sigiloso da polícia

Cayo Lucas, de 21 anos, também é investigado por venda de material infantil e invasão de sistemas oficiais; caso envolve denúncias de exploração infantil feitas por Felca

NACIONAL
Cayo Lucas é suspeito de ameaçar Felca e vender pornografia infantil. - (Foto: Reprodução/Polícia Civil)

A Polícia Civil de Pernambuco prendeu na manhã desta segunda-feira, 25, em Olinda, o jovem Cayo Lucas, de 21 anos, suspeito de ter feito ameaças de morte ao youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca. No momento da prisão, ele estava com um computador aberto e logado no sistema da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, com senhas e credenciais de acesso anotadas e funcionais.

Segundo o delegado Eronides Meneses, da Delegacia de Crimes Cibernéticos de Pernambuco, o próprio Cayo confessou que comprava acessos a sistemas sigilosos por meio de grupos no Telegram. “Ele estava com acesso e senha do sistema da polícia. Confessou que adquiriu essas credenciais em grupos do Telegram”, afirmou.

Ao lado dele, estava outro jovem, Paulo Vinícius, que também foi autuado. Ambos foram presos em flagrante por invasão de dispositivo informático com acesso a dados sigilosos. A pena pode chegar a cinco anos de prisão.

De acordo com a polícia, o grupo conseguia acessar bancos de dados da polícia e do Poder Judiciário para inserir falsamente informações como mandados de prisão contra desafetos. O esquema também era usado para abrir contas bancárias e movimentar dinheiro de forma ilícita.

“Conseguiam invadir sistemas das polícias do Brasil e do Judiciário, conseguindo inclusive inserir informações de mandado de prisão contra qualquer indivíduo. Também usavam esses dados para lavar dinheiro”, explicou o delegado.

Em publicação nas redes sociais, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou que o preso também vendia material de pornografia infantil. “Um belo trabalho de investigação que levou a esse criminoso que, além das ameaças, vendia material infantil nas redes”, escreveu o secretário.

As ameaças ao youtuber começaram após ele publicar um vídeo denunciando a exploração e "adultização" de crianças e adolescentes nas redes sociais. No conteúdo, publicado em 6 de agosto, Felca mostrou como o algoritmo das plataformas pode expor menores a pedófilos e entrevistou uma psicóloga sobre os riscos da exposição online. O vídeo já ultrapassou 43 milhões de visualizações.

O caso gerou ampla repercussão e mobilizou autoridades. A Câmara dos Deputados aprovou, no último dia 20, o projeto de lei conhecido como “ECA Digital”, que propõe regras específicas para proteger crianças e adolescentes no ambiente virtual.

Quebra de sigilo autorizada pela Justiça

Na semana passada, a Justiça autorizou a quebra de sigilo de um e-mail do Google que também teria sido usado para ameaçar Felca. As mensagens recebidas pelo youtuber diziam frases como: "prepara pra morrer" e "vc vai pagar com a sua vida". A decisão judicial também obriga o Google a repassar dados de IP e informações cadastrais vinculadas à conta em questão, sob pena de multa diária de R$ 2 mil, limitada a R$ 100 mil.

Felca chegou a pedir segredo de Justiça no caso, mas o pedido foi negado pelo juiz Pedro Henrique Valdevite Agostinho, que alegou que o princípio da publicidade dos atos judiciais é regra e o sigilo só se aplica em situações excepcionais.

Felca e o impacto das denúncias nas redes

Com mais de 17,7 milhões de seguidores no Instagram, 8,45 milhões no YouTube e 870 mil na rede X (antigo Twitter), Felca tem usado sua visibilidade para levantar debates sobre o uso irresponsável das redes sociais envolvendo menores de idade. O vídeo que desencadeou as ameaças expõe como certos perfis conseguem contornar algoritmos e explorar sexualmente crianças e adolescentes com aparência mais velha — tema que, segundo ele, "quase ninguém com grande alcance" aborda com seriedade.

Após a denúncia, o assunto ganhou espaço entre parlamentares e levou à retomada da discussão sobre a regulamentação das redes sociais no Brasil.