Com mãos na massa e olhos no futuro, produtores descobrem novos sabores no campo
Oficinas da Ruraltur MS mostram que conhecimento é ingrediente-chave para transformar alimentos e histórias
RURALTUR MSNum canto da Feira Central de Campo Grande, o cheiro doce da cocada recém-preparada mistura-se ao vapor do leite aquecido para virar queijo. É ali, em cozinhas montadas dentro de unidades móveis, que a produção rural ganha uma nova receita: a do conhecimento prático e acessível.
Durante os dias 21 e 22 de agosto, cerca de 200 pessoas participaram das oficinas “mão na massa” da Ruraltur MS — a maior feira de turismo rural de Mato Grosso do Sul, promovida pelo Sebrae. De produtores de hortaliças a professores da cidade, o público veio atrás de algo que não se compra pronto: a possibilidade de transformar ingredientes simples em renda extra ou até em um novo negócio.
Teve curso de queijo frescal, de muçarela, de iogurte, de barrinha de banana com castanha de baru e até geleia de abacaxi com especiarias do Cerrado. Tudo pensado para valorizar o que é colhido nas pequenas propriedades do estado e abrir caminhos para quem quer ir além da produção bruta.
Mais do que aprender, é descobrir - Rita Gomes veio de Aquidauana com um objetivo claro: entender como aproveitar melhor o que já planta e colhe. Fez o curso de cocada cremosa. Já Matheus Cintra, professor de história, enxergou nas aulas uma forma de ampliar o que ensina: “é bom saber fazer, mas melhor ainda é compartilhar o saber”, comentou ao sair com um pote de queijo fresco nas mãos.
Outro caso foi o de Vani Bacelar, que não tem vacas, mas tem vizinhos que têm. Para ela, a ideia de aprender a filar muçarela abriu uma nova possibilidade: montar parcerias para transformar leite de outros em queijo próprio.
Quando o saber vale mais que o insumo - No segundo dia do evento, o foco passou da cozinha para o campo. Palestras sobre hortifruticultura, boas práticas de colheita e tendências da pecuária leiteira trouxeram conteúdo técnico, mas traduzido em linguagem simples — do jeito que a rotina pede.
Entre os atentos estava Paulo Constantino, produtor do assentamento Guaicurus, em Terenos. Ele descobriu ali o conceito de leite A2A2, uma variação menos agressiva para quem tem sensibilidade à proteína tradicional. Mais do que a curiosidade, ele saiu com a vontade de aplicar: “se puder vender um leite que faz bem para mais gente, é um ganho para todos”, explicou.
A receita é simples: acesso ao saber - A proposta da Ruraltur MS é clara: mostrar que o campo não precisa mudar de lugar para mudar de vida. O que muda é o acesso à informação, à troca de experiências e à capacitação. Na prática, é possível agregar valor com técnicas simples, muitas vezes desconhecidas por quem está acostumado apenas a plantar, colher e vender.
Mais do que uma feira, o evento vira espaço de transformação. E isso se mede não em sacas ou litros, mas em perspectivas.