Dólar fecha em queda após sinal de corte de juros nos EUA
Moeda americana recua para R$ 5,42, acompanhando o movimento global de apetite ao risco
DÓLARO dólar encerrou a sexta-feira (22) em queda, fechando a R$ 5,42, uma baixa de cerca de 1%. Esse movimento segue a tendência da moeda americana no mercado internacional, impulsionado pelas declarações do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell. Durante o Simpósio de Jackson Hole, Powell indicou que o início de um ciclo de corte de juros nos Estados Unidos pode estar próximo, gerando um impacto positivo nos ativos de risco globalmente.
O discurso de Powell, que destacou a preocupação com o enfraquecimento do mercado de trabalho em vez de um aumento da inflação devido a tarifas de Donald Trump, levou os investidores a venderem dólares e a se dirigirem para bolsas e outras moedas, tanto de países emergentes quanto desenvolvidos.
Apesar da reação positiva ao discurso de Powell, o real teve desempenho inferior a outras moedas emergentes, como o rand sul-africano e o peso colombiano. O dólar à vista fechou a R$ 5,4258, uma queda de 0,97%, comparado aos R$ 5,50 no último fechamento, no dia 19, quando houve tensão política entre Brasil e EUA, com sanções americanas ao ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Embora tenha fechado em queda nesta sexta, o dólar registrou alta moderada na semana (0,52%), devido ao pico de tensão política no dia 19. Em agosto, a moeda acumula perda superior a 3%, resultando em uma desvalorização de 12,21% no ano.
Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, afirmou que o discurso de Powell foi surpreendente, pois o presidente do Fed indicou que o principal risco agora é a piora no mercado de trabalho, e não o aumento da inflação. Isso sugere que o Fed pode iniciar um ciclo de corte de juros, o que teria impacto direto no Brasil, valorizando o real.
A expectativa é de que o primeiro corte de juros possa acontecer já em setembro, embora a dúvida seja sobre a magnitude do corte, se de 25 ou 50 pontos-base. Para Gala, os números do relatório de emprego (payroll) de agosto, que será divulgado antes da reunião do Fed, serão decisivos para determinar a direção da política monetária americana.
A estrategista-chefe da Principal Asset Management, Seema Shah, analisou que, apesar de o discurso de Powell ser "dovish" (mais favorável ao corte de juros), um corte de 50 pontos-base em setembro poderia ser interpretado pelos mercados como uma tentativa de influenciar politicamente o Fed, o que poderia afetar negativamente os ativos de risco.
A pressão sobre o Fed também vem do presidente dos EUA, Donald Trump, que afirmou que vai demitir a diretora do Fed, Lisa Cook, caso ela não renuncie, acusando-a de fraude hipotecária.
O Índice Dólar (DXY), que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de outras seis moedas fortes, recuou quase 1% e apresenta uma leve queda na semana. No mês, a moeda acumula uma desvalorização superior a 2%.
De acordo com ferramentas do CME Group, as chances de redução de juros em 25 pontos-base em setembro nos EUA, que estavam em pouco mais de 70% na quinta-feira, agora superam 90%. O mercado já precifica uma redução total de 50 pontos-base para este ano. A consultoria Capital Economics mantém a expectativa de dois cortes de 50 pontos-base, um em setembro e outro em 2026.
No entanto, a consultoria alerta que, dado o nível de cortes já precificados, o dólar tende a se estabilizar nos próximos meses, sem grandes quedas, especialmente devido às tensões políticas em torno do controle de Trump sobre o Fed.