Redação, O Estado de S. Paulo | 22 de agosto de 2025 - 16h25

Ucrânia ataca oleoduto que abastece Hungria e Eslováquia e aumenta tensão na Europa

Estrutura foi alvo pela segunda vez em uma semana; países europeus criticam Kiev e cobram ação da Comissão Europeia contra ofensivas

GUERRA NA UCRÂNIA
Imagem mostra o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, durante uma coletiva de imprensa na frente da Casa Branca, no dia 18. Ataques contra infraestrutura russa acontecem durante negociações para o fim da guerra - Foto: Jacquelyn Martin/AP

A Ucrânia realizou nesta sexta-feira (22) um novo ataque contra a infraestrutura do oleoduto Druzhba, responsável por transportar petróleo russo para países do Leste Europeu, como Hungria e Eslováquia. Essa é a segunda ofensiva contra o mesmo alvo em menos de uma semana — o primeiro ataque ocorreu na segunda-feira, 18, e interrompeu o fluxo por dois dias. Agora, o fornecimento foi novamente suspenso por pelo menos cinco dias.

A ação faz parte da estratégia ucraniana de atingir estruturas energéticas russas com o objetivo de pressionar Moscou nas negociações para um cessar-fogo, ainda em curso. Embora o alvo principal seja a economia russa, o ataque repercutiu negativamente entre os países europeus afetados, incluindo Hungria e Eslováquia, que dependem do oleoduto para garantir o abastecimento de energia.

A rede Druzhba também fornece petróleo para Belarus e outros países da região. O impacto foi imediato e provocou críticas severas por parte de líderes da União Europeia, especialmente de países que mantêm laços energéticos com Moscou. A Hungria, por exemplo, classificou a ação como um "movimento muito infeliz".

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, chegou a publicar uma carta que escreveu ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mencionando o ataque. O documento, divulgado nas redes sociais, cita o episódio como um gesto provocador da Ucrânia às vésperas de um encontro entre Trump e Vladimir Putin, ocorrido em 15 de agosto, no Alasca. Na publicação, é possível ver um bilhete supostamente escrito à mão por Trump, dizendo: “Viktor, não gosto de ouvir isso, estou muito irritado com isso”.

A Casa Branca não emitiu qualquer declaração oficial sobre os ataques ucranianos à infraestrutura energética russa até o momento.

Críticas à Ucrânia e cobrança à União Europeia
O ministro das Relações Exteriores da Hungria, Péter Szijjártó, usou as redes sociais para criticar duramente a ação de Kiev e lamentar a falta de resposta de Bruxelas. “O oleoduto Druzhba é indispensável para o nosso abastecimento energético. Sem ele, o fornecimento de petróleo aos nossos países é fisicamente impossível”, escreveu.

Segundo ele, junto com o chanceler eslovaco, Juraj Blanár, uma carta foi enviada à vice-presidente da Comissão Europeia, Kaja Kallas, e ao comissário europeu de Energia, Dan Jørgensen, exigindo uma resposta firme da UE. “A Comissão prometeu agir, mas após três ataques permaneceu em silêncio. Bruxelas precisa entender: eles são a Comissão Europeia, não a Comissão Ucraniana!”, disparou.

Apesar da pressão, a União Europeia ainda não se pronunciou formalmente sobre o novo ataque. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, a UE anunciou que pretende eliminar completamente o uso de petróleo e gás russos até 2027. No entanto, Hungria e Eslováquia mantêm uma relação energética próxima com Moscou, o que dificulta uma ruptura imediata com os fornecedores russos.

A Comissão já investiu na expansão da infraestrutura energética na Croácia para oferecer suprimentos alternativos aos países do Leste Europeu, mas o oleoduto Druzhba continua sendo essencial para o fornecimento atual.

Guerra de infraestruturas
Desde o início da guerra, a Ucrânia tem intensificado os ataques a instalações estratégicas na Rússia, como refinarias e oleodutos, para minar a capacidade de exportação de energia do país e criar escassez de combustível. A ideia é pressionar economicamente Moscou e enfraquecer sua máquina de guerra.

Em contrapartida, a Rússia também tem atingido sistematicamente a infraestrutura energética da Ucrânia, principalmente no inverno, o que afeta diretamente a população civil e o funcionamento da indústria.

O conflito, que já ultrapassa dois anos, segue sem uma perspectiva clara de resolução. Apesar das negociações de cessar-fogo em andamento, as ações militares continuam intensas dos dois lados — especialmente com foco em ativos estratégicos como petróleo e energia.