Carta encontrada em casa de auditor é vista como confissão de esquema de R$ 1 bilhão
Operação Ícaro prendeu fiscal da Fazenda, dono da Ultrafarma e diretor da Fast Shop; documento manuscrito detalha propinas em pedidos de ressarcimento de ICMS
CORRUPÇÃOUma carta manuscrita encontrada na casa do auditor fiscal Artur Gomes da Silva Neto, da Secretaria da Fazenda de São Paulo, é considerada pelos investigadores como confissão de um esquema de propinas que teria movimentado mais de R$ 1 bilhão.
O documento foi apreendido durante a Operação Ícaro, que resultou na prisão de Artur, de Sidney Oliveira, dono da Ultrafarma, e de Mário Otávio Gomes, diretor estatutário da Fast Shop. As empresas são suspeitas de pagar propina para agilizar pedidos milionários de ressarcimento de ICMS-ST.
Detalhes da carta - Datada de 3 de março, a carta tem três páginas, escritas à mão com caneta vermelha. Artur descreve uma proposta para “novas liberações de imposto” e detalha riscos de ser descoberto.
O auditor ainda menciona um pedido de orientação espiritual: “Da outra vez eu perguntei para os guias do seu pai. Eles disseram que eu podia assinar, podia trabalhar com esse empresário. E deu esse problema imenso. Não posso mais fazer outro trabalho aqui e depois correr risco e ter de fazer trabalho espiritual de novo.”
Apesar de não conter assinatura, a autoria é atribuída ao fiscal pelo conteúdo técnico detalhado e pelo fato de ter sido encontrado em sua residência.
Prisão preventiva e pedido de exoneração - O Ministério Público de São Paulo pediu a conversão da prisão temporária de Artur em prisão preventiva, alegando risco de ocultação de provas e combinação de versões. Até ontem, a Justiça não havia decidido sobre a conversão.
Na segunda-feira, o auditor solicitou exoneração da Secretaria da Fazenda. Ele permanece afastado das funções por ordem judicial e é alvo de processo disciplinar.
A defesa do auditor, liderada por Paulo Amador da Cunha Bueno, pediu à Justiça a revogação da prisão, argumentando que, sem acesso ao cargo, Artur não oferece risco à investigação. Um laudo médico aponta depressão e risco de suicídio, indicando necessidade de medidas preventivas caso o auditor permaneça preso.
Monitoramento de executivos - Os executivos Sidney Oliveira (Ultrafarma) e Mário Otávio Gomes (Fast Shop) colocaram tornozeleiras eletrônicas ontem, cinco dias após decisão judicial que determinou o monitoramento.
Eles ainda devem depositar R$ 25 milhões de fiança, mas as defesas alegam incapacidade financeira. O juiz Paulo Fernando Deroma de Mello alertou que, caso não seja feito o depósito, os executivos retornarão à prisão.