Paula Ferreira | 20 de agosto de 2025 - 13h05

Itamaraty pede visto para Alexandre Padilha após EUA cancelarem autorizações da família do ministro

Convocado para eventos da ONU e da Opas em Nova York, ministro da Saúde diz que entrada deve ser garantida por acordos internacionais

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Itamaraty enviou pedido de visto para Alexandre Padilha após cancelamento das autorizações da esposa e da filha do ministro. - Foto: Reprodução

O Itamaraty enviou na terça-feira (19) à Embaixada dos Estados Unidos um pedido de visto para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, após o governo norte-americano cancelar as autorizações de viagem da esposa e da filha de dez anos do ministro. A decisão de Washington integra o pacote de sanções contra autoridades brasileiras ligadas ao programa Mais Médicos.

Padilha não teve o visto revogado porque o documento já estava vencido desde 2024. Ele foi convidado a participar, em setembro, da conferência da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

Acesso assegurado por acordos

Apesar do pedido formal do Itamaraty, Padilha afirmou que ainda não decidiu se participará dos eventos devido a conflitos de agenda no Brasil. O ministro disse, no entanto, que, caso opte por viajar, sua presença deve ser garantida por normas internacionais.

“Em relação tanto à ONU quanto à Opas tem o chamado acordo de sede. Nenhum país do mundo pode impedir o acesso de uma autoridade convidada”, declarou.

Ele citou compromissos internos como motivo da indefinição. “A dificuldade de sair do Brasil é por conta das votações no Congresso Nacional, atendimento, e também (agendas) do ‘Agora tem especialistas’. Não tenho decisão ainda se vou poder participar ou não, mas caso venha participar, certamente com o acordo de sede tem que permitir a entrada da autoridade convidada.”

O Itamaraty, entretanto, destacou que é necessário um visto específico para a participação em eventos dos organismos internacionais.

Sanções ligadas ao programa Mais Médicos

A decisão dos EUA de cancelar vistos de brasileiros ocorre em meio a uma ofensiva diplomática contra gestores associados ao programa Mais Médicos, criado em 2013 durante o governo Dilma Rousseff. Padilha era o ministro da Saúde na época do lançamento da iniciativa, que levou profissionais para municípios do interior e periferias sem cobertura médica.

Dois dias antes da revogação dos vistos da esposa e da filha de Padilha, o então secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, do governo Donald Trump, cancelou as autorizações de Mozart Júlio Tabosa Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde, e de Alberto Kleiman, ex-funcionário do ministério.

Rubio justificou a decisão alegando que o programa violaria normas trabalhistas e exploraria profissionais estrangeiros, principalmente cubanos, em território brasileiro.

Reação do ministro

Padilha reagiu às medidas chamando Trump de “inimigo da saúde”. “Não estamos enfrentando só o tarifaço. Estamos enfrentando, na figura do presidente atual dos EUA, um inimigo da saúde. Desde o início do governo dele, ele faz ataques à saúde do mundo como um todo”, afirmou.

O caso adiciona tensão às relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos em um momento de sensibilidade política, já que o tema da cooperação internacional em saúde tem ganhado espaço nas discussões globais.