A classificação do São Paulo às quartas de final da Libertadores, conquistada na última terça-feira (19), no MorumBis, trouxe um respiro para um clube que vive um dos anos mais desafiadores de sua história recente. Com problemas financeiros e instabilidade política nos bastidores, o futebol tem sido o antídoto que equilibra o ambiente no Morumbi e muito disso se deve à chegada do técnico Hernán Crespo, que retomou o comando do time nesta temporada.

Apesar da eliminação precoce no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil, a equipe tricolor ganhou fôlego no torneio continental e já figura entre os oito melhores da América do Sul. O desempenho tem superado as projeções modestas para 2025, num momento em que o clube encara a maior dívida de sua história, com impacto direto nas decisões do futebol.

A eliminação para o Athletico-PR nos pênaltis, nas oitavas de final da Copa do Brasil, chegou a acender o alerta. Mas a resposta veio em grande estilo diante do Atlético Nacional, também nos pênaltis, na Libertadores. Dessa vez, com a vaga garantida e com o apoio de mais de 57 mil torcedores no MorumBis, o São Paulo confirmou o favoritismo.

Hernán Crespo, em sua segunda passagem pelo clube, tem sido peça-chave para essa recuperação. O técnico argentino conseguiu dar identidade tática ao time, blindar o elenco das pressões externas e encontrar soluções mesmo com um elenco limitado. "Onde não chegam as pernas, vai chegar o coração", disse Crespo, uma frase que ele já havia usado em 2021 e que voltou a ilustrar a garra de um grupo que, embora tecnicamente irregular, mostra força coletiva.

Enquanto o time vai bem em campo, o extracampo é marcado por desentendimentos e apertos no caixa. O São Paulo não cumpriu metas de premiação nas duas competições nacionais, o que afetou diretamente o planejamento financeiro do clube. Como alternativa, a diretoria recorreu a empréstimos para tentar manter as contas em dia e alcançar um superávit obrigatório, exigido pelo fundo que amortiza a dívida são-paulina.

Além disso, o relacionamento entre o presidente Julio Casares e o diretor de futebol Carlos Belmonte está desgastado. Belmonte, apontado como possível candidato à presidência em 2026, não deve receber o apoio de Casares. Um episódio recente acentuou a crise: uma mensagem enviada por engano a jornalistas acusava Belmonte de conduzir mal a negociação de empréstimo de Henrique Carmo ao PSV, da Holanda. Segundo o texto, o acordo não traria nenhum benefício ao São Paulo. A publicação foi rapidamente apagada, mas o mal-estar permanece.

Distante das turbulências administrativas, Hernán Crespo evita falar de reforços ou bastidores. Quando questionado sobre o lateral-direito Mailton, da Chapecoense, que estaria próximo de ser contratado, o técnico riu e desconversou: "Ah sim? Você sabe muito, hein. Está falando com a diretoria?", respondeu de forma bem-humorada na coletiva após o jogo.

O elenco também demonstra coesão e compromisso com o trabalho. O goleiro Rafael, decisivo na classificação contra o Atlético Nacional, destacou o espírito coletivo: "O Lucas fala uma coisa que eu concordo muito, e eu acho que eu vivo muito isso também. De todos os grupos que eu trabalhei, esse é muito especial pelo tanto que todo mundo se dedica, trabalha em prol do outro, o tanto que a gente quer crescer junto e o quanto a gente está junto mesmo nas dificuldades", afirmou.

Classificado, o São Paulo agora espera o vencedor de Botafogo x LDU para conhecer seu adversário nas quartas da Libertadores. Crespo já avisou que irá acompanhar a partida da próxima fase com a devida atenção: "Amanhã, cervejinha, televisão, e olhar o rival. Vai ser bonito ter um dia livre depois de muito tempo", brincou.

Enquanto isso, no Campeonato Brasileiro, o clube ocupa a sétima colocação, com 29 pontos, em zona de classificação para a Libertadores de 2026. O próximo compromisso será diante do Atlético-MG, no domingo (24), às 20h30, novamente no MorumBis.

Mesmo sem grandes investimentos e com o peso da crise fora das quatro linhas, o São Paulo de Crespo mostra que há força para sonhar e, quem sabe, terminar o ano com um título que mudaria completamente a narrativa de 2025.