Governo Lula prepara projeto para regulamentar redes sociais com foco em proteção infantil
Planos incluem controle parental, responsabilidade civil das plataformas e punições por crimes graves, sem tratar de desinformação
NACIONALO governo federal está finalizando dois projetos de lei que devem ser enviados ao Congresso nos próximos dias para regular plataformas digitais, com destaque para proteção de crianças e adolescentes, responsabilização civil das empresas e medidas contra crimes graves. A iniciativa se baseia em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e busca criar regras claras sobre o funcionamento das redes sociais no Brasil.
Segundo o STF, em decisão de junho, plataformas são obrigadas a remover proativamente conteúdos criminosos graves, como terrorismo, pornografia infantil, incitação ao suicídio, tráfico de pessoas e pedidos por golpe de Estado. A responsabilização acontece se houver falha sistêmica das empresas, como não adotar medidas adequadas de prevenção ou remoção desses conteúdos.
O texto do governo prevê suspensão temporária das atividades das plataformas que descumprirem regras, por 30 dias, prorrogáveis por mais 30, após uma sequência de advertências e multas. A medida se equipara ao processo usado para concessões de rádio e TV, evitando suspensões sem decisão judicial.
“As plataformas digitais não fazem o que está ao seu alcance para proteger o cidadão, embora lucrem com os usuários”, afirmou fonte do Palácio do Planalto.
A decisão de avançar com a regulamentação ganhou força após a repercussão de um vídeo viral denunciando abusos infantis online, aumentando a pressão sobre o governo para agir rapidamente.
Proteção de crianças e adolescentes - O projeto do Ministério da Justiça (MJ) estabelece mecanismos para vincular contas de menores de 16 anos a adultos responsáveis e proíbe crianças e adolescentes de criar perfis próprios em redes sociais, sites de hospedagem, apostas, conteúdo pornográfico ou intermediação de acompanhantes. As plataformas deverão oferecer controle parental, permitindo que os responsáveis monitorem e gerenciem o uso do serviço.
“O foco na proteção à criança e ao adolescente influenciou a elaboração da nova proposta e pode facilitar consenso político”, afirmou a secretária Lílian Cintra de Melo.
O texto também exige que as empresas adotem medidas proativas para remover conteúdos ilegais, como exploração sexual infantil, terrorismo, incitação ao suicídio e automutilação, especialmente envolvendo menores.
O projeto do MJ funciona como uma espécie de Código de Defesa do Consumidor digital, com regras para:
Transparência em termos de uso e publicidade;
Atendimento ao cliente (SAC) e canais de denúncia;
Identificação de contas automatizadas;
Proteção de dados e segurança do usuário;
Proibição de práticas manipulativas em interfaces digitais (“dark patterns”);
Avaliação de riscos e relatórios de transparência;
Repositórios de anúncios e protocolos de crise.
O objetivo é acabar com a ideia de que plataformas são apenas intermediárias, responsabilizando-as pelos riscos que seus serviços geram, seguindo a lógica do Código de Defesa do Consumidor e do Estatuto da Criança e do Adolescente.
O segundo projeto, elaborado pela Fazenda, foca no aspecto econômico e concorrencial, ampliando o poder do Cade para enquadrar empresas “sistemicamente relevantes” e evitar monopólios em serviços digitais, anúncios e buscas. O texto se inspira em modelos internacionais, como o Digital Markets Act (DMA) da União Europeia.