19 de agosto de 2025 - 07h20

Diagnóstico tardio do câncer de colo do útero sobrecarrega o SUS e reforça alerta por vacinação

Estudo com mais de 200 mil mulheres mostra que 60% dos casos são detectados tardiamente e elevam gastos públicos com quimioterapia e internações

SAÚDE
Pesquisa mostra que demora aumenta internações e atendimentos - (Foto: Marcello Casal/Arquivo/Agência Brasil)

Um estudo realizado por pesquisadores da farmacêutica MSD Brasil revela que o diagnóstico tardio do câncer de colo do útero impõe um alto custo ao Sistema Único de Saúde (SUS), além de impactar negativamente a sobrevivência das pacientes. A análise foi baseada em dados de 206.861 mulheres diagnosticadas com a doença entre 2014 e 2021, registrados no DataSUS.

De acordo com os dados, quanto mais avançado o estágio do câncer no momento do diagnóstico, maior é a necessidade de quimioterapia, internações e atendimentos ambulatoriais. No Brasil, 60% dos casos são identificados em estágio avançado, o que pressiona a rede pública de saúde com tratamentos mais complexos e caros.

O levantamento mostra que, no estágio inicial da doença, 47,1% das pacientes precisam de quimioterapia. Esse percentual salta para 85% nos casos em estágio 4. Além disso, a média de internações mensais vai de 0,05 (estágio 1) para 0,11 (estágio 4), enquanto o número de visitas ambulatoriais também aumenta, passando de 0,54 para 0,96 ao mês.

Estágio do câncer no momento do diagnóstico Necessidade de quimioterapia Internações por mês Visitas ambulatoriais por mês 1 47,1% 0,05 0,54 2 77% 0,07 0,63 3 82,5% 0,09 0,75 4 85% 0,11 0,96

A pandemia de Covid-19 causou retrocessos no tratamento da doença. Em 2020, apenas 25,8% das pacientes realizaram cirurgia isolada, frente aos 39,2% registrados entre 2014 e 2019. O número de procedimentos de radioterapia caiu cerca de 25%, enquanto a quimioterapia isolada aumentou em 22,6% — reflexo direto das lacunas no atendimento causadas pelo colapso hospitalar.

Os pesquisadores alertam que esses atrasos podem ter consequências significativas para a saúde das mulheres a longo prazo, ainda em avaliação.

O estudo também aponta desigualdades no perfil das pacientes. A maioria dos casos ocorre entre mulheres não brancas, com baixa escolaridade e que dependem do SUS. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que o Brasil registre cerca de 17 mil novos casos de câncer de colo do útero por ano.

Além disso, cerca de 80% das mortes pela doença ocorrem em países de baixa e média renda, como o Brasil, reforçando a relação entre desigualdade social e dificuldade de acesso ao diagnóstico precoce.

A principal forma de prevenir o câncer de colo do útero é a vacinação contra o HPV, responsável por 99% dos casos. A vacina quadrivalente está disponível gratuitamente no SUS para meninos e meninas de 9 a 14 anos. Também é ofertada a pessoas entre 9 e 45 anos em condições específicas de saúde, como HIV, tratamento oncológico, transplantes ou em uso de PrEP contra o HIV.

Já na rede privada, está disponível a versão nonavalente da vacina, com proteção ampliada, para pessoas de 9 a 45 anos.

Além da imunização, o rastreamento com exames de rotina e o tratamento de lesões pré-cancerígenas são estratégias fundamentais para reduzir os casos e a mortalidade.

“Como apenas uma minoria dos casos de câncer de colo do útero tem diagnóstico precoce no Brasil, este estudo destaca o alto ônus econômico para o setor de saúde pública, especialmente considerando os atrasos no diagnóstico. Portanto, reforça a necessidade urgente de direcionar mais esforços para a prevenção e o rastreamento”, destaca um trecho do estudo.

A pesquisa também recomenda a ampliação das políticas públicas de imunização e triagem para reduzir os impactos econômicos e sociais da doença. A detecção precoce, segundo os especialistas, pode diminuir a necessidade de cuidados paliativos e permitir um uso mais eficiente dos recursos públicos no tratamento oncológico.