Eduardo Riedel assina filiação ao PP e encerra era tucana entre governadores
Último chefe de Executivo estadual do PSDB comunicou saída ao presidente do partido e oficializa mudança nesta terça (19), em Brasília
POLÍTICAO governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, oficializa nesta terça-feira (19), em Brasília, sua filiação ao PP. Com a saída, o PSDB perde seu último chefe de Executivo estadual, encerrando um ciclo de mais de duas décadas com presença nos governos dos estados.
Riedel comunicou sua decisão ao presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, durante um almoço nesta segunda (18). Segundo aliados, Perillo afirmou que as portas do partido seguirão abertas para um eventual retorno.
A decisão ocorre após a desfiliação dos governadores Raquel Lyra (PE) e Eduardo Leite (RS), que migraram para o PSD em março e maio deste ano, respectivamente. Com isso, os três governadores eleitos pelo PSDB em 2022 já deixaram a legenda.
A escolha de Riedel pelo PP foi motivada por fatores como a estrutura partidária local e a proximidade política com a senadora Tereza Cristina (PP-MS), aliada de longa data e uma das principais lideranças da sigla no estado. A formalização da filiação acontecerá durante convenção do partido em Brasília, que também deve aprovar a federação com o União Brasil.
O PSD, presidido por Gilberto Kassab, também tentou atrair o governador, mas ele avaliou que o PP oferece maior capacidade de acomodar seu grupo político, especialmente com vistas à tentativa de reeleição em 2026. Como gesto de aproximação com o campo político de centro, Riedel comprometeu-se a apoiar uma candidatura de perfil moderado ao Planalto, independentemente da sigla.
A movimentação do governador insere-se em um contexto de reorganização do centro-direita, em meio à fragilidade dos partidos tradicionais. O ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB-MS), do mesmo grupo político de Riedel e cotado para disputar o Senado em 2026, também avalia deixar o PSDB. As opções consideradas por ele são o PL e o próprio PSD.
A debandada de lideranças enfraquece ainda mais o PSDB, que tentou se reestruturar após o fraco desempenho nas eleições de 2022, quando elegeu apenas três governadores. Agora, todos estão fora da legenda. É a primeira vez desde 1994 que o partido não tem representantes nos governos estaduais.
Em seu auge, o PSDB chegou a administrar simultaneamente oito estados, incluindo São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A saída de Riedel simboliza o esvaziamento progressivo do partido, especialmente após o fim da hegemonia em São Paulo e os resultados das duas últimas eleições presidenciais.
Perfil e contexto - Empresário e engenheiro agrônomo, Riedel foi eleito em 2022 com 56,9% dos votos válidos, sucedendo Azambuja no comando do Mato Grosso do Sul. Desde o início do mandato, tem buscado consolidar alianças com partidos do centro e da direita tradicional, mantendo distância da polarização nacional.
Nos bastidores, a mudança de partido também é interpretada como uma tentativa de reposicionamento político. A filiação ao PP amplia seu espaço para negociações regionais e nacionais em um cenário de alta fragmentação partidária.
A sigla escolhida por Riedel integra a base de apoio ao governo do presidente Lula, embora mantenha autonomia nas alianças locais. O ingresso do governador também reforça o capital político da senadora Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura no governo Jair Bolsonaro, e articuladora do partido em Mato Grosso do Sul.
Consequências eleitorais - A filiação de Riedel ao PP deve ter efeitos nas composições locais para 2026. A presença do governador no partido fortalece a legenda no estado e pode influenciar o desenho das chapas proporcionais e majoritárias.
No plano nacional, o PSDB tenta reagir à perda de protagonismo e negocia a possível filiação do ex-ministro Ciro Gomes, que discute com a cúpula tucana sua entrada para concorrer ao governo do Ceará ou à Presidência da República. Caso se concretize, seria uma tentativa de reposicionamento partidário diante da crise de identidade e espaço político enfrentada pela sigla.