Redação | 17 de agosto de 2025 - 20h20

Bolívia encerra votação em clima de tensão com ataques e crise econômica

Resultados preliminares saem na noite deste domingo; oposição de direita projeta força e Evo Morales pede voto nulo como protesto

MUNDO
Fiscais contam os votos em um centro de votação em La Paz, Bolívia - (Foto: Martin Bernetti/AFP)

As urnas foram fechadas na Bolívia às 16h (17h de Brasília) deste domingo (17), em meio a um processo eleitoral marcado por tensões políticas e episódios de violência. O candidato de esquerda Andrónico Rodríguez foi alvo de um ataque com pedras durante o dia da votação.

De acordo com o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), a apuração preliminar começa a ser divulgada às 21h no horário local (22h em Brasília), com previsão de conclusão em até 72 horas.

Pelas regras eleitorais, um candidato pode vencer no primeiro turno caso alcance mais de 50% dos votos válidos ou, no mínimo, 40% com dez pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado. Caso contrário, haverá segundo turno em 19 de outubro.

Pesquisas de intenção de voto divulgadas em agosto pelo instituto Ipsos-Ciesmori apontavam liderança de Samuel Doria Medina, da Aliança pela Unidade (21,2%), seguido de perto por Jorge "Tuto" Quiroga, do Liberdade e Democracia, ambos candidatos de direita.

Crise econômica amplia pressão eleitoral

Os eleitores foram às urnas em meio a uma das maiores crises econômicas recentes do país. Desde 2014, a queda na produção de gás e petróleo — principais fontes de receita nacional — reduziu as exportações e pressionou as contas públicas.

Bolivianos votam em La Paz.- (Foto: Martin Bernetti/AFP)

O governo mantém os combustíveis a preços baixos graças a subsídios que consomem cerca de US$ 3 bilhões ao ano. No entanto, a perda de receitas levou à diminuição das reservas internacionais e a um déficit fiscal crescente.

A inflação também disparou, e a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2025 é de 15,1%, o maior índice desde 2008. Esse cenário fortaleceu a oposição, que vê na disputa a melhor chance de vitória desde 2005, quando Evo Morales assumiu pela primeira vez a presidência.

Evo Morales e a campanha pelo voto nulo

Impedido de disputar as eleições após decisão do Tribunal Constitucional Plurinacional, que reafirmou a proibição de mais de uma reeleição, Evo Morales tem incentivado seus apoiadores a votar nulo como forma de protesto.

O ex-presidente, que governou o país entre 2006 e 2019, afirma que a medida serve para expor a falta de legitimidade do processo eleitoral. — “Esta votação vai demonstrar que é uma eleição sem legitimidade. Essa será a primeira vez na história, se não houver fraude, que o voto nulo será o primeiro”, disse ele após votar em Cochabamba.

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales caminha até seu centro de votação na região de Cochabamba. (Foto: Fernando Cartagena/AFP)

Apesar do apelo, o Tribunal Supremo Eleitoral esclareceu que votos nulos ou em branco não alteram a validade do processo. Internamente, o Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Morales, vive forte divisão, o que enfraqueceu sua capacidade de mobilização em 2025.

Expectativa para os resultados

Os líderes da oposição esperam confirmar vantagem para chegar fortalecidos ao segundo turno. Já os setores ligados a Morales buscam transformar o voto nulo em um símbolo político diante da exclusão do ex-presidente.

Os resultados preliminares deste domingo darão o primeiro panorama sobre o cenário eleitoral mais imprevisível da Bolívia desde o início do ciclo político marcado pela ascensão de Morales em 2005.