Gabriel de Sousa e Geovani Bucci | 13 de agosto de 2025 - 20h30

Lula afirma que Brasil é mais democrático que os EUA

Durante conferência sobre economia solidária, presidente condena sanções contra ministros do Supremo e diz que ex-presidente dos EUA teria sido julgado no Brasil

POLÍTICA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o governo dos Estados Unidos nesta quarta-feira, 13 - (Foto: Wilton Júnior/Estadão)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (13) que o Brasil é, em muitos aspectos, mais democrático do que os Estados Unidos. A declaração foi feita durante a abertura da 4ª Conferência Nacional de Economia Popular e Solidária (Conaes), em Brasília, num momento em que crescem as tensões diplomáticas entre o Brasil e o governo do ex-presidente americano Donald Trump.

Ao comentar a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, Lula declarou que, se o episódio tivesse ocorrido em solo brasileiro, Trump estaria sendo julgado. “Isso é um mau exemplo para a humanidade. Durante muitas décadas, os EUA tentaram se apresentar como o país mais democrático e de mais oportunidades. E, agora, ele tem esse comportamento inexplicável e totalmente inaceitável”, disse o presidente.

Lula criticou ainda a decisão da gestão Trump de revogar os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), classificando a medida como inaceitável e incompatível com a postura que se espera de um chefe de Estado dos Estados Unidos.

Segundo ele, Donald Trump está tentando minar o multilateralismo global, atacando instituições e figuras que defendem a democracia. “Apresentaram um relatório dizendo que nós não respeitamos os direitos humanos porque estamos perseguindo o ex-presidente (Jair Bolsonaro). E que o ministro da Suprema Corte que está julgando é um ditador. Não é possível que ele não conheça nossa Constituição.”

O presidente ressaltou que o Brasil vem se posicionando como um país aberto ao diálogo, mas que enfrenta dificuldades em encontrar interlocutores dispostos a negociar, especialmente no cenário internacional polarizado.

Lula também aproveitou o discurso para reiterar que o governo continuará investindo em políticas públicas com participação popular, destacando a importância da economia solidária como ferramenta de inclusão social e fortalecimento da democracia de base.

Não permitiremos que tranqueiras retornem ao comando do País”, afirmou, em alusão ao ex-presidente Jair Bolsonaro, citado recentemente em documentos e pronunciamentos do entorno de Donald Trump.

A fala reforça o tom político adotado por Lula em meio à pressão internacional e às investidas da extrema-direita contra o Judiciário brasileiro, em especial contra o ministro Alexandre de Moraes, responsável por julgar casos ligados aos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Em outro momento de seu discurso, Lula mencionou o envolvimento histórico dos EUA no golpe militar de 1964 e afirmou que, mesmo assim, o Brasil conseguiu perdoar o país — numa tentativa de contextualizar os atuais ataques vindos da ala trumpista como incoerentes com a trajetória democrática esperada dos Estados Unidos.

Nós até perdoamos eles (EUA) pelo envolvimento no golpe de 1964”, disse Lula. A declaração tem peso simbólico, ao recuperar um episódio traumático da história política nacional e compará-lo com os ataques mais recentes à democracia brasileira.

A 4ª Conaes, onde Lula discursou, tem como objetivo fortalecer a economia popular e solidária, com foco na geração de trabalho e renda em comunidades de baixa renda. O evento reúne movimentos sociais, cooperativas, gestores públicos e representantes de organizações da sociedade civil.

Ao abrir a conferência, o presidente reforçou que o desenvolvimento do país passa pela construção de políticas públicas baseadas na escuta da população e no enfrentamento da desigualdade estrutural.