Por Camilo Ramos | 13 de agosto de 2025 - 10h00

Tecnologia, propósito e o novo jeito de liderar no agronegócio

Camilo Ramos (*)

ARTIGO
Camilo Ramos - (Foto: Divulgação)

Vivemos um novo tempo no agronegócio. Um momento em que a inovação deixou de ser tendência e se tornou pré-requisito, e que a tecnologia não é mais diferencial, mas ferramenta essencial. Nesse cenário, a liderança também precisou evoluir. Comandar hoje demanda mais do que conhecimento técnico ou capacidade de gestão, exige visão, escuta, coerência e, principalmente, propósito.

Ao longo da minha trajetória, aprendi que cargo não define o líder. A responsabilidade, sim. Estar à frente de uma organização ou de um time não é sobre status, é sobre compromisso com pessoas, com resultados sustentáveis e com um legado que vá além de números. Quando se começa a trabalhar muito cedo, ainda criança, ajudando no comércio da família, ali se aprende que trabalho tem valor, mesmo quando não tem holofote. As tarefas são na verdade, sementes de uma liderança que se constrói todos os dias, mesmo longe dos cargos de chefia.

É importante ter aquela inquietação de entender o todo, de buscar sempre o “por quê” por trás do “como”. Isso nos faz crescer em cada função, propor melhorias, desafiar o óbvio e, muitas vezes, enxergar soluções onde antes havia apenas rotina. É essa mentalidade de aprendizado contínuo que deve nortear qualquer líder hoje.

Tecnologia é meio, não fim - Muito se fala sobre transformação digital no campo, e com razão. A presença de tecnologias como inteligência artificial, sensoriamento remoto, conectividade no campo e sistemas de predição mudaram a forma como se produz, como se planeja e como se decide. Mas é preciso ter um entendimento claro: tecnologia não substitui sensibilidade, nem propósito. Ela amplia capacidades, qualifica decisões e potencializa resultados, mas sempre a serviço de algo maior.

Vivemos um momento em que dados são abundantes, mas discernimento continua raro. Liderar neste contexto exige responsabilidade para fazer da inovação uma alavanca de valor, e não apenas uma corrida por performance vazia. A tecnologia que realmente transforma é aquela que respeita o tempo do produtor, dialoga com a realidade do campo e entrega soluções tangíveis.

Hoje, uma mesma equipe pode reunir três ou até quatro gerações distintas. Cada uma com repertório, expectativas e ritmos diferentes. Esse convívio, quando bem conduzido, é uma riqueza. Quando ignorado, é um risco. Liderar nesse contexto não é sobre impor um modelo único. É sobre ter clareza de direção e flexibilidade de condução. Os mais experientes trazem solidez. Os mais jovens, velocidade. Cabe ao líder criar pontes entre esses mundos e deixar claro que, embora haja espaço para a escuta, é necessário convergência em torno da estratégia.

A liderança, portanto, exige hoje muito mais escuta ativa, adaptação de linguagem e construção de confiança do que fórmulas prontas.

Propósito é o que sustenta - Resultados vêm, mas vão. Tecnologias mudam, processos evoluem, cenários se transformam, mas, o que permanece e sustenta é o propósito. Ter clareza sobre o porquê fazemos o que fazemos é o que orienta as decisões difíceis, dá sentido ao esforço e humaniza a jornada.

O propósito é o que transforma colaboradores em times, fornecedores em parceiros e clientes em relações de confiança. É o que ajuda a tomar decisões mesmo quando o cenário está desafiador, e é o que garante que, mesmo com todas as mudanças, os princípios não se percam.

O agronegócio é, por natureza, um setor de resiliência de quem planta sem garantias, colhe com trabalho e reinveste com esperança. Nesse contexto, a liderança não pode ser estática, nem burocrática. Ela precisa ser viva, conectada ao presente e comprometida com o futuro.

Liderar, hoje, é mais do que conduzir equipes ou entregar resultados. É gerar valor com responsabilidade, tomar decisões com propósito e transformar desafios em caminhos. E isso só é possível quando se lidera com verdade. Enquanto estiver nesta jornada, sigo com o compromisso de aprender, desaprender e reaprender sempre. Porque liderar, no agro ou em qualquer outro setor, é um processo, nunca um ponto final.

(*) Mestre em Administração, CEO do Grupo Piccin.