Chega aos cinemas nesta quinta-feira (14), o aguardado documentário No Céu da Pátria Nesse Instante, de Sandra Kogut, que mergulha nas intensas e polarizadas eleições de 2022. O filme oferece uma visão íntima dos bastidores do pleito, não pelos políticos, mas pelos cidadãos comuns, aqueles que, por suas escolhas e realidades, ajudaram a moldar o momento decisivo da política brasileira.

Desde os créditos iniciais, o filme já deixa claro seu propósito: registrar as tensões políticas e sociais do Brasil, quando uma mulher se recusa a participar do documentário caso Sandra Kogut seja “de esquerda”, declarando que ser contra Bolsonaro é ser contra o Brasil. A cineasta, que queria retratar os cidadãos do Brasil profundo, revela o cenário tumultuado de 2022, onde a polarização e os conflitos marcaram o país.

Sandra Kogut optou por dar voz a personagens que não são figuras públicas, mas que vivenciam diretamente os impactos da política. Entre eles, estão um caminhoneiro do Paraná, um homem que vende toalhas estampadas com os rostos de Bolsonaro e Lula, uma jovem que trabalha em campanhas políticas no Rio de Janeiro, e uma funcionária da Justiça Eleitoral no Pará. A única pessoa com maior expressão pública no filme é Antonia Pellegrino, esposa de Marcelo Freixo, que era candidato ao governo do Rio de Janeiro na época.

A cineasta também enfrentou dificuldades para encontrar personagens com uma visão mais à direita, como revela a áudio inicial do filme. Sandra se dedicou à transparência com seus entrevistados, deixando claro seu posicionamento pessoal e garantindo que sua intenção era compreender, não convencer. A relação de confiança criada entre ela e os personagens foi fundamental para o andamento da produção.

O documentário não apenas captura o processo eleitoral, mas também os eventos que seguiram as eleições. A diretora teve acesso a momentos únicos, como as operações da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno e, especialmente, a invasão dos edifícios públicos em Brasília em 8 de janeiro de 2023. “Eu estava descansando em casa, mas o roteirista do Brasil não deixa ninguém descansar”, lembra Sandra, ao relembrar a manhã em que foi avisada sobre os ataques. O filme inclui imagens fortes dessa invasão, além de cenas de um fotógrafo infiltrado no acampamento em Brasília, mostrando a violência do momento.

Outro episódio impactante retratado no documentário é quando a equipe de filmagem foi impedida de gravar em uma escola eleitoral no Rio de Janeiro, uma área dominada por milícias. “Houve muito medo ao fazer esse filme”, admite Sandra, reconhecendo que o medo foi uma constante durante a realização do trabalho.

A polarização política, que divide claramente o país, é um dos principais elementos do filme. Sandra conclui No Céu da Pátria Nesse Instante com uma reflexão do caminhoneiro paranaense, que observa que ele e a cineasta vivem realidades distintas. Para Sandra, o documentário é um passo na direção de tentar reconectar essas duas realidades tão separadas. "Acho que o único caminho para um terreno comum é o caminho humano, das relações humanas", afirma.

O título do filme, inspirado em um verso do hino nacional, reflete a ideia de que, apesar das divisões, todos vivem sob o mesmo céu. Para a cineasta, o filme é uma tentativa de documentar uma sucessão de instantes que, durante o processo, pareciam apenas manchetes passageiras, mas que juntos, formam uma linha do tempo importante para entender o momento que o Brasil atravessa.

No Céu da Pátria Nesse Instante é um filme que não só documenta os eventos de 2022, mas também questiona as profundas divisões que marcaram o Brasil. Ao buscar entender as pessoas por trás das manchetes e registrar momentos históricos de tensão, Sandra Kogut nos entrega uma obra sensível e reflexiva sobre a polarização política e os desafios para a reconstrução de um país mais unido.