Auditor fiscal de SP é preso por envolvimento em esquema de corrupção com propinas milionárias
Operação Ícaro desmantela esquema que envolvia auditor fiscal, empresas e contadoras, com apreensão de milhões em dinheiro e bens valiosos.
OPERAÇÃO ÍCAROArtur Gomes da Silva Neto, auditor fiscal da Secretaria da Fazenda de São Paulo, foi preso em sua residência em Ribeirão Pires, no ABC paulista, acusado de ser o "cabeça" de um esquema de corrupção envolvendo o pagamento de propinas milionárias para destravar pedidos de ressarcimento de ICMS-ST. O caso é investigado pela Operação Ícaro, que também apreendeu R$ 1,8 milhão em dinheiro vivo e pedras preciosas. A investigação ainda está em andamento e os promotores buscam esclarecer a possível participação de outras empresas e auditores no esquema.
O esquema, que movimentou mais de R$ 1 bilhão em propinas, teve seu ponto de partida com a quebra de sigilo bancário e fiscal da empresa Smart Tax, registrada em nome da mãe de Artur, Kimio Mizukami da Silva. A empresa de consultoria tributária, que nunca teve funcionários registrados e só teve um cliente — a Fast Shop —, é considerada pelos investigadores uma fachada para repassar propinas ao auditor fiscal. O patrimônio da empresa, que em 2021 era de R$ 411 mil, saltou para R$ 46 milhões em 2022 e atingiu a impressionante cifra de R$ 2 bilhões em 2024.
Documentos e e-mails trocados por Artur, incluindo uma correspondência de dezembro de 2024, colocaram empresas na mira do Ministério Público. Em um dos e-mails, Artur recebeu uma minuta de um acordo de confidencialidade para a prestação de serviços ao Grupo Nós, negociados através da empresa Smart Tax, que atuava de maneira clandestina.
Além de Artur, o auditor aposentado Alberto Toshio Murakami também está sendo investigado. Murakami, que tinha o certificado digital da empresa Rede 28, permitia a formalização de pedidos em nome da empresa junto à Secretaria da Fazenda. Ele teria continuado a colaborar com Artur após sua aposentadoria, ajudando na execução do esquema.
O esquema envolvia ainda contadoras, como Fátima Regina Rizzardi e Maria Hermínia de Jesus Santa Clara, que atuavam como "assistentes" na elaboração de documentos e cálculos complexos para os pedidos de ressarcimento. Maria Hermínia, por exemplo, trocou e-mails com Artur pedindo ajuda para resolver problemas com arquivos de ressarcimento de ICMS.
Empresários também foram envolvidos no esquema, incluindo Celso Éder Gonzaga de Araújo, que foi preso após a apreensão de R$ 1,2 milhão, US$ 10,7 mil, € 1.590, além de relógios de luxo e esmeraldas. A investigação apontou que ele ajudava na lavagem de dinheiro do esquema.
Outros auditores fiscais também foram implicados. Marcelo de Almeida Gouveia, lotado na Delegacia Regional Tributária de Osasco, teve R$ 330 mil, US$ 10 mil, € 600 e R$ 2 milhões em moedas digitais apreendidos. A prisão preventiva de Gouveia foi requisitada pelos promotores após a apreensão da quantia, o que foi autorizado pela Justiça.
Maria Hermínia de Jesus Santa Clara, uma das contadoras, teve R$ 73 mil e US$ 13 mil apreendidos, além de uma máquina de contar dinheiro.
O Ministério Público continua a investigar a extensão do esquema, buscando identificar se há outros auditores fiscais envolvidos. O promotor Roberto Bodini afirmou que o desafio agora é verificar a possível participação de outras empresas no esquema criminoso. Também estão sendo analisados os procedimentos internos da Secretaria da Fazenda, com o objetivo de revisar as práticas e evitar que novos casos de corrupção ocorram.
“A investigação está avançando, e nosso objetivo é desmantelar toda a rede criminosa e garantir que a justiça seja feita. Vamos trabalhar para identificar todos os envolvidos e também pressionar pela revisão dos processos internos da Secretaria da Fazenda”, afirmou o promotor.