Áudios revelam detalhes sobre mandante e execução do assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips
Gravações autorizadas pela Justiça indicam que "Colômbia" teria financiado crime e advogado de acusado; PF reforça tese de vingança ligada à pesca ilegal no Vale do Javari
NACIONALNovas provas reforçam a participação de Rubens Villar Coelho, conhecido como “Colômbia”, no assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, ocorrido em junho de 2022 no Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas. Áudios obtidos pela Polícia Federal (PF), com autorização judicial, revelam conversas entre “Colômbia” e os acusados Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, e Jefferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, dentro da cela onde estavam presos.
As gravações, divulgadas neste domingo (10) pelo Fantástico (TV Globo), mostram “Colômbia” afirmando que queria se vingar de Bruno Pereira, acusado por ele de atrapalhar atividades ilegais de pesca. Segundo o delegado Sávio Pinzon, responsável pelo caso, os indícios apontam que “Colômbia” entregou munição para os executores e financiou o pagamento do advogado de Amarildo após o crime.
Conversas gravadas
Em uma das conversas, “Colômbia” pergunta a Amarildo:
“Tu falou alguma coisa do cartucho (de munição)? Que tu comprou o cartucho de mim?”
“Não, não”, responde Amarildo.Em outro momento, “Colômbia” comenta sobre ter pago advogado para o comparsa:
“Eles estão pressionando sobre o advogado que eu paguei.”
“Sobre o meu, né? É, eu disse que tu não pagou, não. Foi minha família”, responde Amarildo.
As escutas também captaram diálogos entre Amarildo e Jefferson. Em um trecho, Jefferson admite ter dito à polícia que atirou pelas costas, mas se preocupa com a repercussão:
“Eu falei que foi pelas costas. Ficou ruim.”
“Pois é, aí tu fala que foi pelo lado”, orienta Amarildo.
Amarildo também instrui Jefferson a omitir o envolvimento de outras pessoas para evitar a acusação de formação de quadrilha e descreve como os corpos foram queimados e enterrados para despistar as autoridades. Ele ainda relata que uma espingarda usada no crime foi jogada no rio por um terceiro envolvido.
Bruno Pereira, que treinava indígenas para fiscalizar e proteger o território, e Dom Phillips, que registrava a realidade amazônica para um livro, foram mortos a tiros, esquartejados, queimados e enterrados. O crime, segundo a PF, foi motivado por prejuízos que a dupla estaria causando ao esquema de pesca ilegal na região.
O Ministério Público Federal denunciou “Colômbia” como mandante por homicídio duplamente qualificado — motivo torpe e sem chance de defesa das vítimas. Ele também é investigado por pesca ilegal, contrabando e tráfico de drogas. Amarildo confessou participação e indicou onde os corpos estavam enterrados. Ele, Oseney da Costa de Oliveira (“Dos Santos”) e Jefferson serão levados a júri popular.