Ambientalistas comemoram vetos de Lula a trechos da nova lei de licenciamento, mas alertam
Decisão presidencial preserva pontos centrais da legislação, mas divide setores e deixa margem para retomada de dispositivos no Congresso
PL DA DEVASTAÇÃOA decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vetar trechos da nova lei de licenciamento ambiental foi bem recebida por entidades ambientalistas, mas também gerou alertas sobre possíveis brechas e insatisfação entre estados e setor produtivo. Os dispositivos rejeitados incluíam pontos considerados de maior preocupação por organizações de defesa do meio ambiente, como a flexibilização de regras para biomas.
Entre os vetos está a retirada de artigos que transferiam a responsabilidade de estabelecer critérios e procedimentos de licenciamento a estados e municípios. Para a Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema), a decisão “pode representar um retrocesso na descentralização da política ambiental”.
Especialistas apontam que, mesmo com os vetos, o texto final não resolve os entraves atuais do licenciamento no Brasil. O professor Talden Farias, das Universidades Federais de Pernambuco e da Paraíba, classificou a medida como “um remédio pobre” por não tratar de questões climáticas e de integração de dados.
Já para a ONG SOS Mata Atlântica, a retirada do artigo 66, que poderia flexibilizar a aplicação da lei do bioma, foi decisiva. “Não poderíamos agora, às vésperas da COP30, perder essa legislação”, afirmou Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da organização.
A especialista Ana Carolina Crisostomo, do WWF-Brasil, avaliou que os vetos respondem “ao clamor da sociedade”. Ainda assim, a própria WWF defendeu veto integral ao projeto em abaixo-assinado que reuniu mais de 1 milhão de assinaturas.
A Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também pediam rejeição total ao texto. No Congresso, a Frente Parlamentar Mista Ambiental classificou a medida como “um freio parcial à boiada”.
Do outro lado, entidades do agronegócio, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), não comentaram até a publicação da matéria. No próprio governo, havia divisões: enquanto o Ministério da Agricultura defendia vetos pontuais, setores ligados ao meio ambiente pressionavam por cortes mais amplos.
Em postagem nas redes sociais, Lula justificou a decisão: “Esses vetos asseguram que o licenciamento seja um instrumento de desenvolvimento com responsabilidade, mantendo critérios técnicos sólidos e o respeito à nossa Constituição. Ao mesmo tempo, estamos enviando ao Congresso Nacional, com urgência, um novo projeto de lei que propõe ajustes na redação de pontos essenciais. E uma MP que trata dos projetos estratégicos.”
O veto presidencial, no entanto, não encerra o embate. O Congresso pode derrubar os vetos e reincluir trechos originais, reabrindo a disputa entre ambientalistas e setores econômicos interessados em flexibilizar regras.