PT oficializa saída do governo de Eduardo Riedel e acusa governador de se alinhar à extrema-direita
Sigla rompe com governo Riedel, acusa governador de se alinhar à extrema-direita e anuncia formação de frente progressista para 2026
BATEU O MARTELOO diretório estadual do Partido dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul anunciou, nesta sexta-feira (8), a decisão unânime de deixar a base do governo Eduardo Riedel (PSDB). Em coletiva de imprensa realizada em Campo Grande, lideranças da sigla afirmaram que a relação política com o governador se tornou “insustentável” após movimentos que, segundo o PT, indicam um alinhamento do tucano e de suas lideranças à mesma extrema-direita que o partido ajudou a derrotar nas eleições de 2022.
‘A relação se esgotou’ - O ex-presidente do diretório estadual do PT, Vladimir Ferreira, relembrou que, no segundo turno da disputa pelo governo de Mato Grosso do Sul, a sigla apoiou Riedel como parte de um esforço para derrotar a candidatura bolsonarista. “Nós fomos participar do governo por entender que o PSDB queria também integrar uma frente em defesa da democracia. O tempo passou, a conjuntura política foi mudando e, infelizmente, o governador, as lideranças do PSDB e o ex-governador Reinaldo estão se alinhando politicamente justamente com essa extrema-direita que o PT ajudou a derrotar em 2022”, afirmou.
Segundo ele, a decisão foi construída com a participação da Executiva estadual, das bancadas federal e estadual e de integrantes petistas que ocupam cargos no governo. “Chegamos à conclusão de que essa relação se esgotou. Assim, a permanência do PT no governo se torna insustentável. Daqui do Mato Grosso do Sul, a partir deste momento, vamos construir um projeto que representará o projeto nacional liderado pelo presidente Lula”, completou.
Sem rompimento institucional - Ferreira enfatizou que a saída não significará cortes nos repasses federais ao Estado. “A maior parte dos investimentos que estão acontecendo no Estado são recursos do governo federal. Em Campo Grande, a prefeita anunciou uma série de obras e, dessas, pelo menos 70% são recursos federais. No que depender dos nossos deputados federais, estaduais e do partido, continuaremos trabalhando para trazer recursos e investimentos para Mato Grosso do Sul”, disse.
Ele também sugeriu que a ruptura pode atrair outras legendas para uma frente ampla contra o atual grupo político que comanda o Estado. “Quem acompanha o noticiário político do Mato Grosso do Sul e a soberba de quem está no poder sabe: eles estão querendo dizer como é que vai ser a regra do jogo — ‘só terão três chapas’, ‘aqui cabe fulano’, ‘aqui não cabe ciclano’ — e nós sabemos que não é assim que funciona”, afirmou, citando que a meta é formar uma frente democrática, de esquerda e progressista para 2026.
‘Entramos pela porta da frente e saímos pela porta da frente’ - O deputado federal Vander Loubet, presidente estadual do PT, reforçou que a decisão foi unânime. “Nós entramos pela porta da frente e vamos sair pela porta da frente. Já tomamos a decisão: não vamos mais permanecer no governo”, disse.
Segundo ele, o estopim foi uma carta assinada por Riedel, enviada de uma viagem à Ásia, que criticava o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. “Nitidamente, a carta define de que lado ele optou, e isso feriu os princípios que defendemos no Estado Democrático de Direito. A questão envolve uma crítica ao ministro, mas todas as decisões dele têm respeitado o direito de defesa e têm sido homologadas por maioria. Esse foi o limite”, explicou.
Loubet também assegurou que, mesmo na oposição, o partido manterá a relação institucional. “Nada vai atrapalhar. O cidadão mora no município e, quando chegarem os equipamentos e recursos - mesmo estando na oposição -, continuaremos atendendo. Enfrentamos a prefeita e mais de 70% das obras que estão sendo realizadas em Campo Grande são do governo federal. Isso não mudará”, afirmou.
O deputado adiantou que o PT pretende liderar a construção de uma “Frente Ampla Democrática de Apoio ao Lula” no Estado, com vistas a viabilizar um movimento político que possa resultar em uma candidatura própria em 2026.
A deputada federal Camila Jara destacou que a saída do governo permitirá ao PT diferenciar seu trabalho do realizado pela gestão estadual. “Com esse posicionamento do PT em se retirar do governo, nós iremos - como diz a língua popular - separar o joio do trigo”, declarou.
Ela afirmou que, até agora, as bancadas petistas atuaram em conjunto com os governos estadual e municipal para anunciar obras financiadas pela União, mas que, a partir de agora, será possível mostrar quem é responsável por cada entrega. “Vamos mostrar para a população quem realmente faz, quem garante que as crianças permaneçam na escola e quem atua para estruturar a agricultura familiar. Vamos mostrar as entregas do Partido dos Trabalhadores, e eles terão que se esforçar para mostrar quais são as entregas que o governo estadual conseguiu fazer sozinho, sem a parceria do governo Lula”, disse.
A direção estadual do PT informou que a decisão já está tomada e será formalizada assim que o governador retornar ao Estado. Um encontro da sigla está marcado para 30 de agosto, quando o partido deve discutir os próximos passos e articular alianças para o futuro.