Itamaraty reage a críticas dos EUA e convoca representante americano no Brasil
Postagens da embaixada americana sobre o STF e Alexandre de Moraes provocam nova crise diplomática
POLÍTICAO Ministério das Relações Exteriores convocou novamente o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos após novas declarações da representação americana sobre o cenário político e judicial brasileiro. A convocação ocorreu após publicações em redes sociais feitas pela embaixada e por órgãos do governo dos EUA, com críticas diretas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A reunião foi conduzida pelo embaixador Flavio Goldman, secretário interino de Europa e América do Norte. Segundo fontes diplomáticas, o governo brasileiro expressou “profunda indignação” e classificou as postagens como uma “clara ingerência” em assuntos internos, além de conterem “ameaças inaceitáveis” a autoridades do país.
As críticas mais recentes da embaixada americana acusaram Moraes de censura e perseguição política contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. As publicações também mencionam as sanções aplicadas ao ministro por meio da chamada Lei Magnitsky — dispositivo dos EUA que impõe restrições a indivíduos acusados de violações graves de direitos humanos. Moraes, agora impedido de entrar no país e de movimentar bens em solo americano, foi incluído na lista ao lado de outros sete ministros do STF, que também tiveram seus vistos revogados.
As mensagens atribuídas à embaixada e a autoridades americanas, como Darren Beattie (subsecretário para Diplomacia Pública) e Christopher Landau (secretário adjunto de Estado), foram vistas pelo governo brasileiro como violações da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas. O artigo 41 do tratado determina que representantes estrangeiros devem se abster de se envolver nos assuntos internos dos países onde atuam.
As críticas, feitas publicamente e também reproduzidas em perfis da diplomacia americana, foram consideradas pelo Itamaraty como um desrespeito aos protocolos diplomáticos e motivaram a quarta convocação formal de Gabriel Escobar desde o início do governo Trump. Escobar, embora já tenha se reunido com autoridades como o vice-presidente Geraldo Alckmin, nunca foi recebido pelo chanceler Mauro Vieira.
Mesmo reconhecendo que as manifestações seguem orientações do governo norte-americano, o Itamaraty pretende manter as reações formais por meio de canais diplomáticos. Ainda não há definição de uma resposta pública mais incisiva, mas o desconforto com as postagens é claro.
Em nota, a embaixada americana confirmou o encontro, mas informou que não comentará o conteúdo da reunião:
"O encarregado de negócios da Embaixada e Consulados dos EUA, Gabriel Escobar, se reuniu hoje com representantes do Ministério das Relações Exteriores. A embaixada não divulga conteúdo de reuniões privadas."