Redação | 08 de agosto de 2025 - 09h40

Faustão passa por quarto transplante e reacende debate sobre fila única de órgãos no Brasil

Apresentador foi submetido a novo transplante de rim e também de fígado; prioridade na fila segue critérios técnicos e clínicos definidos pelo SUS

SAÚDE
Em seu perfil no Instagram, Faustão fez um vídeo agradecendo à família de seu doador pelo coração recebido - (Foto: @faustaodomeucoracao/Instagram)

O apresentador Fausto Silva, de 75 anos, passou por dois novos transplantes de órgãos nesta quarta-feira (7), no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Internado desde maio por conta de uma infecção bacteriana com quadro de sepse, Faustão recebeu um novo rim e um fígado, totalizando quatro transplantes desde 2023.

Segundo o boletim médico, os órgãos vieram de um único doador compatível, identificado pela Central de Transplantes do Estado de São Paulo, que autorizou e acionou a equipe médica para a realização imediata das cirurgias.

Essa nova intervenção reacendeu o debate público sobre o funcionamento da fila única de transplantes no Brasil, especialmente em casos de figuras públicas. A alta complexidade dos procedimentos levanta dúvidas entre a população sobre os critérios de prioridade e o tempo de espera.

Faustão já havia passado por um transplante de coração em agosto de 2023 e, seis meses depois, em fevereiro de 2024, foi submetido ao primeiro transplante de rim. Desta vez, além de um retransplante renal, ele também precisou de um novo fígado.

A situação clínica delicada do apresentador, segundo os médicos, foi determinante para sua inclusão com prioridade na fila, conforme os critérios técnicos do Sistema Único de Saúde (SUS), que considera gravidade, compatibilidade e tempo de espera.

De acordo com o Ministério da Saúde, a lista de espera é única e gerida nacionalmente, valendo tanto para pacientes do SUS quanto da rede privada. Os critérios que determinam a ordem de prioridade não incluem aspectos sociais ou econômicos.

A prioridade é dada com base em fatores como:

Distância entre paciente e hospital do transplante, respeitando o chamado tempo de isquemia, que é o período em que o órgão pode ficar fora do corpo.

Casos considerados urgentes, como insuficiência hepática aguda, falência de órgãos transplantados ou impossibilidade de diálise, são tratados com prioridade máxima.

Quando esses critérios estão equilibrados, a ordem de cadastro é usada como critério de desempate.

O Brasil possui hoje o segundo maior programa público de transplantes do mundo, com 30,3 mil procedimentos realizados em 2024. Desse total, 85% foram feitos com recursos do SUS, que destinou R$ 1,47 bilhão ao setor no ano passado.

No entanto, a demanda ainda é alta. Em junho de 2025, 78 mil pessoas aguardavam por um órgão. A maior parte da fila é para:

No Estado de São Paulo, onde Faustão reside, cerca de 28 mil pessoas esperam por um transplante, sendo 20,8 mil para rim, 6,6 mil para córnea e 848 para fígado.

São Paulo lidera o número de transplantes realizados no país. Em 2024, o estado respondeu por 9.537 procedimentos, sendo os mais frequentes:

A infraestrutura de transporte e logística, aliada à alta capacidade hospitalar, contribui para o bom desempenho do estado no cumprimento dos protocolos de transplante.

Apesar das regras técnicas e da gestão centralizada, casos de grande repercussão, como o de Faustão, frequentemente levantam dúvidas sobre transparência e equidade na fila de espera. O Ministério da Saúde reforça que não há privilégio, e todos os casos passam por auditoria médica rigorosa.

"O sistema é auditável, público e regulado com base em protocolos clínicos. O critério é médico, e não social", afirma a pasta em nota oficial.

A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) também esclarece que celebridades e pacientes privados não têm vantagem sobre os demais. “O que define a prioridade é a urgência clínica, comprovada por exames e acompanhada pelas centrais de transplante”, pontua a entidade.

Apesar da transparência do sistema, o Brasil ainda enfrenta desigualdade de acesso aos transplantes em algumas regiões. Estados com menor estrutura hospitalar e dificuldades logísticas acabam tendo taxas de transplantes mais baixas, o que também afeta o tempo de espera dos pacientes.

Por outro lado, o avanço em captação e doação de órgãos tem permitido um aumento constante no número de transplantes realizados nos últimos anos.