Brasil e Índia estreitam laços comerciais em reação a tarifas dos EUA
Com nova sobretaxa imposta por Washington, empresários dos dois países intensificam negociações bilaterais; corrente de comércio pode alcançar US$ 30 bilhões
INICIATIVAS BILATERAISEm resposta ao aumento das tarifas de importação promovido pelos Estados Unidos, representantes empresariais e autoridades do Brasil e da Índia intensificam articulações para expandir o comércio bilateral. A aproximação ganha força diante do salto da tarifa média americana sobre produtos brasileiros, que passou de 1,9% para 32%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A reação à política protecionista dos EUA mobilizou uma comitiva brasileira em missão empresarial a Mumbai nesta semana. Durante o evento, o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, defendeu a diversificação de mercados e destacou o potencial da parceria com a Índia em setores estratégicos.
“Historicamente, temos pouca relação comercial com a Índia. Mas, com toda essa movimentação americana em torno das tarifas, estamos despertando um olhar para novos mercados. A Índia tem estreitado relações com o Brasil, e com Mato Grosso do Sul não é diferente”, afirmou Riedel.
O governador citou iniciativas já em curso, como parcerias em etanol e açúcar com tecnologia brasileira, além da exportação direta de produtos. “Podemos incrementar muito a cadeia da celulose, especialmente a solúvel, que é usada na indústria têxtil — e a Índia é um dos grandes polos têxteis do mundo”, acrescentou.
Riedel também revelou negociações com o governo da província onde está localizada Mumbai para firmar acordo de cooperação entre universidades locais e instituições sul-mato-grossenses, com foco em intercâmbio de estudantes e pesquisa em tecnologia agrícola.
“A partir do momento em que produtos como a celulose foram liberados, surgem oportunidades. Mas as carnes bovinas, por exemplo, enfrentam restrições, o que prejudica exportações para os Estados Unidos. Estamos conversando com empresários e buscando mercados alternativos, como China, Japão e Singapura”, afirmou.
Segundo ele, a missão internacional do Estado inclui agendas nesses países, com foco em atração de investimentos e abertura comercial. Riedel também defendeu que o Brasil adote uma postura pragmática nas tratativas diplomáticas com os EUA. “O país precisa negociar com altivez, sem abrir mão de sua soberania, mas com clareza de que o maior prejudicado com essa tensão comercial é o próprio Brasil.”
Durante o evento empresarial promovido pelo LIDE, o ex-governador de São Paulo João Doria também criticou as tarifas americanas e reforçou o papel da Índia como alternativa estratégica para exportadores brasileiros. “Temos que buscar outros mercados. Se há sanções externas, temos que reagir com alternativas concretas”, disse.
Kenneth Nóbrega, subsecretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, informou que o governo brasileiro já vinha sinalizando interesse em aprofundar o comércio com a Índia desde 2024. “Em 2024, nossa corrente de comércio somou US$ 12 bilhões. A expectativa é que esse número alcance US$ 30 bilhões nos próximos anos”, afirmou. Os investimentos indianos no Brasil somam US$ 1 bilhão.
Entre os projetos em andamento está a instalação de uma fábrica da Embraer na região de Mumbai, com investimento de R$ 2 bilhões e capacidade para produzir aeronaves de até 100 lugares. O contrato pode ser fechado até setembro e deve gerar 2.500 empregos diretos, com fornecimento de peças a partir do Brasil.